Suspeito passeio noturno em Lisboa

No tempo da faculdade, quando disse ao professor Amora que ia a Europa, ele me recomendou que procurasse seu sobrinho, para que me mostrasse a bela Lisboa. Lá chegando, telefonei e o rapaz imediatamente se prontificou a me fazer companhia.

Estou a contar-lhes o episódio porque este foi o meu primeiro contato ao vivo com o português de Portugal. Logo de início o impacto é grande e se não tivermos um pouco de jogo de cintura, tudo pode se complicar.

Da primeira vez que saímos era noite e estávamos a passear de carro pela cidade quando de repente, não mais que de repente, o gajo me propôs: “Que tal irmos a um sítio muito divertido?” Isto lá é hora de se ir a um sítio?, respondi, tentando imitá-lo e já pensando em alguma maneira de escapar daquilo que me pareceu um suspeito passeio.

Demoramos a chegar a um acordo. Foi preciso muito falatório até compreendermos que estávamos a pensar em coisas distintas. Sítio, para eles, não passa de um lugar qualquer, nada tem a ver com os nossos, que por aqueles lados se chamam quintas.

Depois de tudo devidamente esclarecido, fomos ao tal sítio que de engraçado não tinha nada. Era, na verdade, um lugar muito bonito, situado num dos pontos mais altos da cidade. Naquela época de Natal ali ficava armado um grande presépio com as figuras em tamanho natural.

Além da surpresa, pude admirar lá de cima Lisboa toda iluminada.

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(escrito em 1994)