DEPOIMENTO ÚLTIMO : O ALCOOLISMO _ ANO/2009

Até a pouco tempo não se sabia porque de uma simples "oportunidade de beber" surgia um "hábito de beber" e este hábito se transformava em vício. Citavam-se diversos fatores: fraqueza de caráter, hereditariedade, fuga... Hoje sabemos que alcoolismo é uma doença, uma neurose de fundo nervoso. Toda pessoa que vive um conflito, que não consegue enfrentar seus problemas, torna-se neurótica. E assim, entrega-se mais facilmente ao álcool.

O alcoolismo é um problema psíquico. As pessoas são hoje, em grande maioria, infelizes e vivem insatisfeitas. Segundo Albert Camus, vivemos um século de angústias. Por meio do álcool, os homens procuram afastar sua angústia, seu medo. As velhas religiões, as velhas crenças falharam ou são impotentes para conduzir a humanidade. Quem pode, então "salvar-nos", a nós, que já não nos contentamos com essa nossa vida, com a vida deste século? O álcool. Por que?

O álcool interrompe a ligação entre o "arquivo" (invólucro exterior do cérebro) que guarda tudo que nos acontece, e a "raiz" do cérebro (camada central) onde se desenvolvem os sentimentos. Tudo que nos acontece forma uma idéia no arquivo do cérebro (consciente). Dessas idéias, surgem os sentimentos de prazer e gozo, de desagrado e tormento (armazenadas na raiz do cérebro). O álcool modifica essa ligação e até inverte a sensação, transformando um tormento em prazer. O álcool suprime inibições e recalques, tensões, timidez. No início o álcool até pode parecer benéfico. Mas, com o tempo, torna-se o veneno ideal, com o tempo destrói o cérebro.

O médico pode mostrar ao alcóolatra os fatores que o levam a beber, mas não pode fazer desaparecerem as dificuldades. Ele pode, com a ajuda do paciente, modificar suas atitudes de enfrentamento frente as dificuldades da vida. Mas, o parar de beber depende 99% do alcoolista, pois, antes de tudo, ele "deve" querer; do contrário não existem fórmulas mágicas que o levem a parar. Sozinho é muito difícil, quase impossível, dominar o vício. É necessário a ajuda de médicos, grupos e até medicação para amenizar a ansiedade.

Todo mundo pode sentir raiva. O alcóolatra não. Porque em vez de extravasar, ele corre o risco de cair no copo para criar coragem e o ciclo recomeça. O médico psiquiatra ou o psicólogo são importantes para ajudar na mudança de comportamento.

Existem clínicas especializadas; a maioria das cidades brasileiras mantém o CAPS (Centro de Atendimento Psico-Social) que dispõe de profissionais qualificados, que proporcionam acompanhamento individual e reuniões em grupo (é gratuíto). E tem os Alcóolicos Anônimos, instituição que surgiu nos EUA, na década de 30, se espalhou pelo mundo e é uma sociedade livre, sem dirigentes, onde os próprios dependentes fazem as reuniões, trocando experiências porque, segundo eles, ninguém melhor que um alcoolista para entender e dar estímulo com seu exemplo, a outro alcoolista.

Alternativas existem... inúmeras. Mas, se não entrar aí a vontade do doente, instituições, grupos ou médicos jamais serão capazes de ajudar alguém a parar de beber. Como dizem os AA: o primeiro passo é reconhecer que somos impotentes perante o álcool.

Termino esse depoimento com a Oração da Serenidade, encontrada em todas as salas de AA:

Concedei-nos, Senhor,

a serenidade necessária

para aceitar as coisas

que não podemos modificar,

coragem para modificar

aquelas que podemos

e sabedoria para distinguir

umas das outras.

NA: Este texto é baseado na minha experiência pessoal, embasado em trechos do livro ATÉ O MAIS AMARGO FIM, de J.M.Simmel.

Giustina
Enviado por Giustina em 04/10/2009
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T1846735
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