MAIS ALGUÉM OU MAIS NINGUÉM?
Dentro do trem, vejo um desfile macabro: entra cego, sai aleijado; pedintes da minha piedade. Sou cruel, pago a bala, não pago esmola.
Gosto do sentimento que me toma quando vejo que há gente em pior situação que a minha; por isso há miséria no mundo, para nos lembrar da riqueza que temos e que até então achavámos que não tinhamos.
Tenho saúde e dinheiro para a bala, mas pouca paciência para escutar a mulher trocando o choro da sua criança por moedas; não dou nem olhar para ela, e por isso acho que vou para o inferno.
Se eu for para o inferno, acho que vou dar de cara com Deus, e diante do Senhor, vou pedir " força e saúde" para essa gente em situação pior que a minha; afinal trocado não é riqueza e se tem gente que vive de bala, com certeza, há de a ver gente que vive sem esmola.