Rio 2016: O Horizonte
 
            Os céus caiam sobre Goiânia. O granizo coloria de branco o azul-opala do asfalto e diversas ruas transformavam-se em corredeiras. Assim que a fúria dos deuses se acalmou, busquei minha filha no Colégio.
            - Sabe quem foi escolhida como sede da próxima Olimpíada?
            - Quem? – Respondeu-me perguntando, enquanto ainda pensava nos melhores cálculos que poderia ter feito na sua prova de matemática.
            - O Rio! - Soltou um grito brasileiro. Percebi então o quão venturosa é a geração atual. Nasceram testemunhando, vivendo e tendo como naturais a Internet, um país sem inflação, pertencente ao G-20, em breve ao G-8, exportador potencial de petróleo, estável democraticamente com instituições sólidas, com um parque industrial diversificado, tendo uma agricultura exuberante, candidato a potência mundial tendo o diploma do grau de investimento. Após sua euforia inicial, ficou séria, refletiu e ponderou sobre o desafio que nos espera:
            - Puxa, pai. É tão estranho pensar no futuro. A gente sempre estuda o passado, olha o passado e agora temos que olhar para frente...
            Em poucos segundos caiu-lhe a ficha: o Brasil não só chegou ao futuro, como, de geração a geração, vem se polindo, ganhando e galgando novos passos na escalada natural para se tornar uma nação madura. Não somos mais um país promessa de futuro, somos um país do presente, com amplas possibilidades de moldar, como declarou o monarca espanhol Ruan Carlos ao final do embate de Copenhague:
            - O Brasil tem a oportunidade de mudar o seu destino.
            A palavra é de rei, que, em muitas nações tem o peso de lei. O mundo estará nos observando nos próximos sete anos. Temos uma eleição presidencial em 2010, uma Copa em 2014 e o evento esportivo máximo da era moderna: as Olimpíadas. Serão tempos de planejamento, de trabalho, de execução e de muita esperança; a nossa especialidade maior.
            Confesso que me enfileirava, antes do término da eleição que nos transferiu o bastão daquela responsabilidade, na equipe dos que não acreditavam. Foram tantas candidaturas fracassadas, tantas decepções acumuladas, que me habituei a ver o Brasil como um eterno pretendente. Acomodei-me na Terra do Nunca e lá fiquei, vindo a ser colhido pela surpresa quando soube do resultado final. Não soltei um brado engasgado na garganta. Preferi a tese da racionalidade, da ponderação, de uma quase britânica comemoração.
            Teremos muitos investimentos, serão gerados empregos, impostos e a população carioca receberá, como herança, uma considerável melhoria em serviços. Sempre há, no entanto, aqueles que apostam contra. Devemos zelar pelos gastos não permitindo que o dinheiro seja desviado por descaminhos que não queremos trilhar. Precisamos seguir o exemplo vitorioso de Barcelona que ainda hoje colhe os frutos de uma estrutura multifuncional que a projetou como centro internacional de turismo e cultura. Algumas cidades-sede herdaram dívidas pesadas, como Montreal, que é um exemplo a evitar. São muitas lições com as quais o Rio pode aprender, construindo uma história vitoriosa.
            Não podemos perder o momento histórico de provar ao mundo que somos uma nação merecedora de crédito. Deixemos no passado o peso de nossas decepções e amargura. Afinal, como dizia um amigo:
            - Quem vive de passado é museu!
            Olhemos para o futuro, para os próximos sete anos que, certamente, irão passar rapidamente. Serei na época do evento um homem de cinquenta anos maduro e experiente. Não quero ouvir o discurso derrotado de que o dinheiro poderia ser melhor aplicado em educação, em obras sociais ou na saúde. Podemos fazer tudo isso e ainda realizar uma Olimpíada. Já basta do velho e combalido discurso terceiro-mundista que a atual geração aparentemente não quer viver. Podem acusar o presidente Lula de muitas coisas, somente não podem acusá-lo de não ter participado de uma história que se estende a todos nós. Os anéis olímpicos podem mostrar ao mundo o quão acolhedor, competente e determinado é o nosso povo. Se o mundo é capaz de confiar em nós, honremos a escolha. Já é hora de nos unirmos em torno dos desafios que rondam a pátria, já é hora de construirmos um novo orgulho nacional, uma nova identidade e, como disse minha filha:
            - Temos que olhar para frente.