O Jogo dos Bichos - (Nova Lima-MG.)
Aqui um passe certo vale um gol.
Isso mesmo! Não tem centena, nem milhar. O negócio é futebol mesmo!
De um lado os bichos grandes e d’outro os pequenos.
Covardia?
Nem tanto. Se a girafa leva vantagem pelo alto, em contra partida, tirar a bola da centopéia é coisa impossível.
Local do jogo ? Ah, sim; no campo do Leão (16) do Bonfim, em Nova Lima. Jogo de reinauguração do estádio, depois de sofrer moderna reforma.
A bicharada ficará muito à vontade. Em caso de fome, por exemplo, o cavalo, camisa 11 pode comer a grama. O porco 18, fuçador por natureza, atingiria com facilidade a camada de areia da drenagem, da qual serviria o gato 14, em caso de um eventual distúrbio digestivo.
Aprofundando mais uns centímetros seria a vez do avestruz 1, que encontraria uma camada de gnaiss de rara perfeição granulométrica. E mais abaixo ainda um enorme lençol freático prá abastecer o reservatório do camelo camisa 8, deixando-o desta forma focado tão somente na partida.
Ingressos esgotados, o jogo causou um ouriço na cidade do ouro.
Houve muita polêmica em torno de qual seria o transporte apropriado para conduzir toda aquela bicharada ao campo.
Também pudera, nunca se teve notícia da reunião - de uma única só vez - de tanto bicho para um evento, desde os tempos do dilúvio.
O velho capitão Anísio, então presidente do Vila, inteligentemente recorreu aos projetistas - que a cidade sempre gerou em profusão - para que emprestassem colaboração e chegassem a um expoente comum, capaz de solucionar o inesperado problema. Dos degraus por onde passaria a torcida organizada das tartarugas – por exemplo – deles deveria servir-se o elefante camisa 12.
Missão também nada impossível para alguns deles que assinaram o projeto da Arca do Sr. Noé.
Deixando isso de lado e voltando ao que interessa, “o jogo”, falemos do veado do juiz, ou melhor, do veado 24, escolhido como árbitro. Porque o veado? É que além de fazer parte do quadro da CBB, Confederação Brasileira dos Bichos, ele corre demais e sempre chega junto ao lance. E isso, numa partida de futebol, é de suma importância.
Circo armado, foi iniciada a partida.
Na primeira bola que saiu prá lateral, o coelho, camisa 10, levou uma puta torrada da cobra 9. De certo, tá querendo o que? Mandou que ela cobrasse rapidinho o lateral.
O galo13, esbanjando raça, passou pelo todo poderoso pavão 19 e disse:
- coró- corocó- roró; que tava lá no Aurélio, num cocoroquêz mais claro:
- vamos parar de rebolar e dar mais sangue pô. Mas quem morgava mesmo era o burro camisa 3, que foi instruído pelo técnico amigo urso 23 a ganhar a segunda bola. Assim fincou pé no gramado e por ela ali ficou esperando.
Apesar disso, aos trinta minutos do primeiro tempo já era visível o domínio territorial dos bichos grandes. O placar acusava 4 a 0.
Gols de quem? Da girafa, claro, e todos de cabeça. Tarefa fácil como tomar bala de criança, já que disputava as bolas alçadas na grande área com a dupla de zaga formada por dois dogs, um dálmata cujo pai era dos USA e um pastor alemão, capa preta, ambos vacinados, vermifugados e devidamente aquecidos para a partida. Tinham a pegada como maior trunfo, porém, estavam abalados psicologicamente depois de colocados, naqueles dias, à venda, no jornal Balcão: 3292-9600 ( palpitão ). E no Balcão agente sabe: anunciou? Vendeu! Aonde que eu tava mesmo? Ah,sim!
Os cruzamentos foram feitos pelo ponta esquerda cavalo 11, que metia sempre no segundo pau, conforme exaustivamente fora exigido nos treinos.
O único que ele cruzou errado no primeiro pau foi aproveitado pelo jacaré 15, que marcou de peixinho, bem no finalzinho do primeiro tempo. Aliás, melhor não tê-lo feito, porque esse gol deu um rebú danado. O veado mandou o mesário periquito anotar na súmula para os bichos grandes e este, querendo puxar a sardinha pro seu lado, anotou para os bichos pequenos. De raciocínio até certo ponto lógico, argumentou que o jacaré marcou o gol foi de peixinho e, em sendo o peixinho um bicho pequeno, logo...
E por falar em logo, logo logo chegou a turma do “ deixa disso ”, que aliás, em todo jogo que se preze, tem. A discussão continuava. Uns alegavam que não tem tartaruga e nem peixinho no jogo de bichos, enquanto outros garantiam : muito menos girafa e rinoceronte. O bicho preguiça encontrou ânimo prá ponderar que deixassem tudo como estava. O placar já estava dilatado e um golzinho pro’s pequenos não chegaria a ameaçar. Não convenceu muito o rinoceronte, que tinha suado muito a camisa, que mais parecia com um lençol de cama de casal de Itú, além do que, babava como vaca, sem parar. Houve também quem se limitasse a corujar. Foi preciso do Anízio para colocar ordem na casa. Seguinte: já que tá em cima da hora pessoal, digo; bicharada, o melhor é ir descansar, que todo mundo volta de cabeça fria pro segundo tempo – no que foi aplaudido.
De volta prá etapa final, o macaco 17 - técnico dos pequenos - fez uma radical modificação. Retirou a tartaruga que, na sua ótica , estava muito lenta no ataque e colocou em seu lugar a centopéia.
Era tudo o que os bichos grandes temiam, conforme atestaram noticiários durante a semana inteira. E num é que era verdade?
A bicha tomou conta do jogo! Nem o leão 19, cabeça de área “e que cabeça, heim” conseguia desarmar a centopéia.
Ela enrolava a todos e as vezes até a si mesma, com a bola entre suas dezenas de pernas. Resultado: o tigre 22, goleiro dos grandes, apesar de conhecido como o “ famoso mão de onça ”, tomou 4 gols dela, que somados com o polêmico e impróprio gol do jacaré 15, resultava num placar final de 5 x 4 para os pequenos.
Daí em diante foi aquela festança. Foguetes, volta olímpica, neguinho beijando a camisa, a centopéia com uma das perninhas alçada ao ouvido querendo a ovação da torcida, etcétera e mais etcétera.
Na primeira quitanda em que se encontraram liberou geral. Muito gole pro camisa 20 perú, açucar à vontade prá’s fanáticas torcedoras de um ônibus da cidade de FORMIGA e outras guloseimas mais.
Luzes apagadas, surge o papagaio prá entrevistar o macaco, além é claro, da centopéia.
Escuta aquí ôh macaco! Conta prá nós. ( falando da centopéia )
Porque você não entrou com essa arma poderosa, logo de cara, desde o primeiro tempo?
No que o macaco de pronto respondeu:
- e não era prá entrar não?
É que a excomungada ficou lá no vestiário num tal de :
- atadura, meia, chuteira
- atadura, meia, chuteira
- atadura, meia, chuteira
- atadura, meia, ...
dez. de 1998
Aqui um passe certo vale um gol.
Isso mesmo! Não tem centena, nem milhar. O negócio é futebol mesmo!
De um lado os bichos grandes e d’outro os pequenos.
Covardia?
Nem tanto. Se a girafa leva vantagem pelo alto, em contra partida, tirar a bola da centopéia é coisa impossível.
Local do jogo ? Ah, sim; no campo do Leão (16) do Bonfim, em Nova Lima. Jogo de reinauguração do estádio, depois de sofrer moderna reforma.
A bicharada ficará muito à vontade. Em caso de fome, por exemplo, o cavalo, camisa 11 pode comer a grama. O porco 18, fuçador por natureza, atingiria com facilidade a camada de areia da drenagem, da qual serviria o gato 14, em caso de um eventual distúrbio digestivo.
Aprofundando mais uns centímetros seria a vez do avestruz 1, que encontraria uma camada de gnaiss de rara perfeição granulométrica. E mais abaixo ainda um enorme lençol freático prá abastecer o reservatório do camelo camisa 8, deixando-o desta forma focado tão somente na partida.
Ingressos esgotados, o jogo causou um ouriço na cidade do ouro.
Houve muita polêmica em torno de qual seria o transporte apropriado para conduzir toda aquela bicharada ao campo.
Também pudera, nunca se teve notícia da reunião - de uma única só vez - de tanto bicho para um evento, desde os tempos do dilúvio.
O velho capitão Anísio, então presidente do Vila, inteligentemente recorreu aos projetistas - que a cidade sempre gerou em profusão - para que emprestassem colaboração e chegassem a um expoente comum, capaz de solucionar o inesperado problema. Dos degraus por onde passaria a torcida organizada das tartarugas – por exemplo – deles deveria servir-se o elefante camisa 12.
Missão também nada impossível para alguns deles que assinaram o projeto da Arca do Sr. Noé.
Deixando isso de lado e voltando ao que interessa, “o jogo”, falemos do veado do juiz, ou melhor, do veado 24, escolhido como árbitro. Porque o veado? É que além de fazer parte do quadro da CBB, Confederação Brasileira dos Bichos, ele corre demais e sempre chega junto ao lance. E isso, numa partida de futebol, é de suma importância.
Circo armado, foi iniciada a partida.
Na primeira bola que saiu prá lateral, o coelho, camisa 10, levou uma puta torrada da cobra 9. De certo, tá querendo o que? Mandou que ela cobrasse rapidinho o lateral.
O galo13, esbanjando raça, passou pelo todo poderoso pavão 19 e disse:
- coró- corocó- roró; que tava lá no Aurélio, num cocoroquêz mais claro:
- vamos parar de rebolar e dar mais sangue pô. Mas quem morgava mesmo era o burro camisa 3, que foi instruído pelo técnico amigo urso 23 a ganhar a segunda bola. Assim fincou pé no gramado e por ela ali ficou esperando.
Apesar disso, aos trinta minutos do primeiro tempo já era visível o domínio territorial dos bichos grandes. O placar acusava 4 a 0.
Gols de quem? Da girafa, claro, e todos de cabeça. Tarefa fácil como tomar bala de criança, já que disputava as bolas alçadas na grande área com a dupla de zaga formada por dois dogs, um dálmata cujo pai era dos USA e um pastor alemão, capa preta, ambos vacinados, vermifugados e devidamente aquecidos para a partida. Tinham a pegada como maior trunfo, porém, estavam abalados psicologicamente depois de colocados, naqueles dias, à venda, no jornal Balcão: 3292-9600 ( palpitão ). E no Balcão agente sabe: anunciou? Vendeu! Aonde que eu tava mesmo? Ah,sim!
Os cruzamentos foram feitos pelo ponta esquerda cavalo 11, que metia sempre no segundo pau, conforme exaustivamente fora exigido nos treinos.
O único que ele cruzou errado no primeiro pau foi aproveitado pelo jacaré 15, que marcou de peixinho, bem no finalzinho do primeiro tempo. Aliás, melhor não tê-lo feito, porque esse gol deu um rebú danado. O veado mandou o mesário periquito anotar na súmula para os bichos grandes e este, querendo puxar a sardinha pro seu lado, anotou para os bichos pequenos. De raciocínio até certo ponto lógico, argumentou que o jacaré marcou o gol foi de peixinho e, em sendo o peixinho um bicho pequeno, logo...
E por falar em logo, logo logo chegou a turma do “ deixa disso ”, que aliás, em todo jogo que se preze, tem. A discussão continuava. Uns alegavam que não tem tartaruga e nem peixinho no jogo de bichos, enquanto outros garantiam : muito menos girafa e rinoceronte. O bicho preguiça encontrou ânimo prá ponderar que deixassem tudo como estava. O placar já estava dilatado e um golzinho pro’s pequenos não chegaria a ameaçar. Não convenceu muito o rinoceronte, que tinha suado muito a camisa, que mais parecia com um lençol de cama de casal de Itú, além do que, babava como vaca, sem parar. Houve também quem se limitasse a corujar. Foi preciso do Anízio para colocar ordem na casa. Seguinte: já que tá em cima da hora pessoal, digo; bicharada, o melhor é ir descansar, que todo mundo volta de cabeça fria pro segundo tempo – no que foi aplaudido.
De volta prá etapa final, o macaco 17 - técnico dos pequenos - fez uma radical modificação. Retirou a tartaruga que, na sua ótica , estava muito lenta no ataque e colocou em seu lugar a centopéia.
Era tudo o que os bichos grandes temiam, conforme atestaram noticiários durante a semana inteira. E num é que era verdade?
A bicha tomou conta do jogo! Nem o leão 19, cabeça de área “e que cabeça, heim” conseguia desarmar a centopéia.
Ela enrolava a todos e as vezes até a si mesma, com a bola entre suas dezenas de pernas. Resultado: o tigre 22, goleiro dos grandes, apesar de conhecido como o “ famoso mão de onça ”, tomou 4 gols dela, que somados com o polêmico e impróprio gol do jacaré 15, resultava num placar final de 5 x 4 para os pequenos.
Daí em diante foi aquela festança. Foguetes, volta olímpica, neguinho beijando a camisa, a centopéia com uma das perninhas alçada ao ouvido querendo a ovação da torcida, etcétera e mais etcétera.
Na primeira quitanda em que se encontraram liberou geral. Muito gole pro camisa 20 perú, açucar à vontade prá’s fanáticas torcedoras de um ônibus da cidade de FORMIGA e outras guloseimas mais.
Luzes apagadas, surge o papagaio prá entrevistar o macaco, além é claro, da centopéia.
Escuta aquí ôh macaco! Conta prá nós. ( falando da centopéia )
Porque você não entrou com essa arma poderosa, logo de cara, desde o primeiro tempo?
No que o macaco de pronto respondeu:
- e não era prá entrar não?
É que a excomungada ficou lá no vestiário num tal de :
- atadura, meia, chuteira
- atadura, meia, chuteira
- atadura, meia, chuteira
- atadura, meia, ...
dez. de 1998