AFINAL, O QUE É A VIDA?


IMAGEM DA INTERNET - Google

Fazendo uma pesquisa na internet, verifiquei que apenas no Google, existem aproximadamente 367 milhões de referências à vida. A Wikipédia – a enciclopédia livre – a define como sendo um conceito muito amplo, admitindo, portanto, diversas definições. De uma forma simplista, a vida é o espaço de tempo entre a concepção e a morte de um organismo. Metafisicamente, a vida é um processo constante de relacionamentos.
 
         Em minha opinião, nenhuma dessas 367 milhões de referências substitui duas definições que considero o máximo. A primeira vem de Vinícius de Moraes, poeta e diplomata, e que foi um dos precursores do movimento da bossa nova. Diz ele em determinado trecho da música “Samba da Bênção”, feita em parceria com Baden Powell: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. A outra definição, simplesmente magnífica, é do arquiteto Oscar Niemeyer, e vem a ser um recado a quem se leva muito a sério: “A vida é um sopro”, nome que foi dado ao documentário lançado em 2007 sobre a sua vida e obra. Ele repete muito essa frase até hoje em diferentes situações. Chega a ser irônico alguém com 101 anos dizer que a vida é um sopro.
 
         Há uns meses atrás, um amigo que conheci em 1986 e que morava no mesmo condomínio que eu, estava extremamente feliz, pois iria viajar para a Europa, de navio, juntamente com a sua namorada. Ele me contou detalhes do roteiro, que incluía passagem pelo Mediterrâneo além de uma infinidade de locais a serem conhecidos em diversos países. Seriam usados praticamente todos os meios de transporte existentes, na viagem que teria uma duração aproximada de um mês. Já com os seus setenta e poucos anos, viúvo, situação financeira confortável, esta seria a viagem dos sonhos, não só pelos lugares, mas também pela companheira que iria com ele.
 
         Chegou o grande dia e o inimaginável aconteceu: ele já estava na sua cabine, no interior do navio, pronto para zarpar, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Naquele momento, como um sopro, sua vida esvaiu-se. Foi socorrido pelas equipes do navio, levado ao hospital onde tinha plano de saúde, internado na UTI, submetido a todos os cuidados e cirurgias, lá permanecendo por um bom tempo. O assunto foi até motivo para uma matéria na TV local. O AVC que o acometeu foi muito forte e ele nunca mais foi o mesmo, locomovendo-se somente em cadeira de rodas e dependendo de outras pessoas para tudo. Um fato difícil de prevenir e até de imaginar, mesmo sabendo-se possível.
 
         Ficou entre idas e vindas, hospital-casa, casa-hospital, até que chegou o dia em que terminou sua jornada por aqui. Foram seis meses de agonia e esperança. Mais ou menos um mês antes de sua partida eu o havia encontrado na cadeira de rodas, amparado por uma enfermeira particular. Fiquei emocionado, pois ele me reconheceu, chegando a me olhar fixamente e pronunciar o meu nome. Depois disso, não o vi mais com vida.
 
         São muito poucas as pessoas que admitem pensar, falar e se preparar para uma verdade indiscutível e cercada de tabus: a morte. Não é através de nossos pensamentos que ela vem mais cedo ou mais tarde. Vivemos na ilusão de que somos eternos neste plano. Todos contam com a idéia de que vão morrer bem velhinhos, mas, por muitas vezes, o momento da partida chega bem antes, sem pedir autorização e quando ainda existiam muitos planos pela frente. Chego a pensar que o maior temor não é a morte em si, mas a forma como ocorrerá. Quando tomamos consciência da nossa finitude, o que resta é o presente. Sentimos então a necessidade de repensar este presente, melhorando a qualidade das relações, procurando mais ‘ser’ do que ‘ter’, pensando o que nos faz felizes e quais as nossas prioridades de vida. Enfim, o que na realidade faz sentido no nosso viver.
 
         Viver a vida é fundamental, mas aceitar que a morte é inevitável nos prepara melhor para a própria vida. Procuremos ser pessoas simples, honestas, caridosas, respeitando a todos. Evitemos incorporar os vícios da vaidade, da soberba, da avareza. Nariz empinado pode nos trair em momentos cruciais. Vivamos no bem e para o bem, pois isso é o mínimo que podemos esperar de nós mesmos.
 
         A vida é imprevisível; já a morte nos espreita a todo o momento e em qualquer lugar. Não há como negar que “a vida é um sopro”.
 
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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 03/10/2009
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