UM DIA COMUM
Acordou atrasada! Dia de reunião no trabalho. Lá fora, o sol sorria depois de uma semana chuvosa. O ascensorista comentou alegre sobre o tempo naquela manhã. Sorriu como se houvesse notado a grande diferença, mas a verdade é que estava preocupada demais em chegar a tempo para a décima reunião que, provavelmente, não decidiria nada discutido na anterior.
Não conseguiu uma brecha para sair na hora do almoço e perdeu a chance de observar o inesperado cortando o dia. De repente, um realejo na esquina do escritório. Há quanto tempo não via um realejo e o som característico que poderia transportá-la para uma lembrança infantil? Sua secretária voltou para o expediente da tarde, encantada com o bilhete da sorte. Ao passar pela recepção escutou o burburinho e algo sobre "conhecer o amor de sua vida naquele mesmo dia".
Não teve tempo de sorrir. Chamada de volta à sua sala, atenderia cinco ligações nos próximos quinze minutos.
No final da tarde, em plena sexta-feira, entre relatórios e telefonemas, sentiu a garganta ressecada. Desligou o ar condicionado e abriu a janela ao som de gargalhadas na rua. Um grupo se reunia em frente à calçada. E ela ali, sem tempo para vida lá fora.
Três horas depois, chegava em casa, mais uma vez, atrasada para o jantar e sem vontade de saber como havia sido o dia ao redor. Teve medo de escutar outro dia comum.
(*) Imagem: Google
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