Que critérios você usa para escolher seus compadres?

Semana passada, o primo Epaminondas me surpreendeu. Nos encontramos na saída da missa e ele foi logo me estendendo a mão e sem muitas delongas, foi se explicando:

- Tá vindo mais uma cria aí, e estou pensando em convidar você a sua esposa para serem os padrinhos.

Tudo bem, pensei comigo, - mas por que eu? Faz uns 15 anos que não nos conversamos. O que deu na cabeça do Epaminondas?

Passei quatro noites tentando desvendar o mistério. Querendo entrar no fundo do cérebro do primo.

Cheguei a uma conclusão que não me animou: só pode ser porque estou motorizado. Há alguns dias comprei um Maverick verde ano 1971. Ele deve estar pensando que o primo aqui, está com a vida feita.

Então me vieram à mente recordações da juventude.

Para padrinho de casamento convidava-mos os amigos de bar, eles se identificavam com a gente em alguma coisa. Não sabíamos explicar bem o que era. Mas era o cara por quem você tinha uma enorme admiração, tinha um emprego melhor, se vestia bem, nos levava pra casa de carro quando o “pote” tava cheio e nos ouvia sobre certos segredos amorosos. E você nunca mais esqueceu que num daqueles porres, prometeu: – quando eu casar, você será um dos meus padrinhos.

E esses amigos sempre tinham uma irmã bonitona, mas não dava para se aventurar, afinal, ele era seu amigo, futuro padrinho. Seria uma grande sacanagem você olhar para a irmã dele com outras intenções. Se bem que ela, uhhhh...

No meu caso, acabei descobrindo tempos depois, que um dos meus futuros compadres era um amigo da onça, me fazia alguns favores por interesse, pois quando eu não estava por perto, andava arrastando a asa pro lado da Lurdinha, a irmã mais nova. Safado! E a coitada, solteira até hoje.

Mas agora não tem mais conserto. É compadre e pronto.

E para batizar os filhos? Quem escolher? Agora não podia ser um conhecido de boteco. Tinha que ser um sujeito mais sério, responsável, que também fosse casado e de preferência, pai. Pra dar mais moral, né?.

Optei pelos irmãos da patroa. Mas qual deles? O mais velho não seria um bom exemplo, já estava com a terceira mulher e gostava mesmo era de viver cantando nas esquinas da vida.

O cunhado do meio, muito trabalhador, mas todo o final de semana arrumava uma encrenca e passava dois ou três dias preso. Já imaginou perguntar ao filho se havia visto o padrinho e ele responder: - de que jeito? Ele pára mais preso do que solto!

E com o mais novo a gente não se combinava muito bem. Culpa dele, claro.

Nossa última encrenca foi por questões financeiras. Cobrou-me duas vezes pelo conserto de um banheiro que teve que ser finalizado por outro profissional.

Acabei convidando meu irmão e sua digníssima esposa, contra a vontade da minha. Ela dizia que ele era arrogante, metido a rico e tinha mais de uma dúzia de defeitos, – mais de ordem moral do que psicológica. Mas deu certo. Padrinho e afilhado têm um ótimo relacionamento. São sócios em diversos bordéis, casas de massagem e outros empreendimentos com nome em inglês que não sei explicar.

Mas, voltando ao caso Epaminondas, ontem o encontrei novamente. Ele voltou a tocar no assunto. Então, preferi esquecer velhas rusgas e perguntei? - Por que eu?

- Na realidade você estava na lista desde o nosso primeiro filho. Este que está vindo é o 8º . E último. Os padrinhos que nós escolhemos para os outros, não deram muito certo, não eram pessoas ligadas a família, alguns foram embora e os afilhados acabam ficando sem aquele vínculo, sem amor, sem referência. Com você é diferente. Somos primos, moramos na mesma cidade e você é um bom ...

- Está bem, disse eu. – Vou trocar umas idéias com a patroa.

- Não precisa. Minha mulher e a sua já haviam combinado isso logo que a gravidez se confirmou. O que faltava era coragem da minha parte, como das outras vezes. Pois você, ultimamente, tem andado de mau humor, cara fechada, parece que ficou rico.

E é assim que se escolhe um compadre.

Por afinidade, companheirismo, por interesse ou por medo.

Se você tem medo de alguém, convide pra compadre.

Assim o medo vai diminuindo, diminuindo e quando você menos espera – sumiu.