Comendo sozinho no prato
Na minha memória está o rosto de meu pai. Homem severo que não permitia questionamento de menino. São dias diferentes dos de hoje. Mas ainda que agora criança possa argumentar de suas posições frente a certas atitudes paternas, algo atravessa meus dias: Os olhos de meu pai dizendo NÃO.
Sempre me faço a pergunta de por que me lembro dele em horas de dificuldades. Talvez seja porque ele sabia me dar a resposta apropriada. Com isso aprendi que por menores que sejam as ações dos homens, elas ficam registradas na história. E podemos analisá-las diante de uma visão crítica, sendo nós conhecedores de outras visões. A reprodução de alguns atos passados pode ser vista como uma forma de aplaudir grandes pessoas que já não estão entre nós, tal meu pai.
Lembro-me como se fosse hoje, de eu e minha prima Marta Inês comendo no mesmo prato; e de uma frase de meu pai: ”Alguém vai comer a menos”! Ora, éramos crianças desfrutando o prazer de rir uma da outra “degustando” um prato de feijão. Fingíamos comer uma galinha caipira ao molho-pardo ou um belo pedaço de carne de porco assada ao forno. Ajudava a “enfrentar” o feijão simples e, com gorgulhos, na maioria das vezes.
Diante dessas lembranças, vejo-me sem entender por que os políticos brasileiros estão sempre envolvidos em nepotismo. Definir família como célula núcleo da sociedade envolve comer no mesmo prato? Esses mesmos políticos são o responsável direto de exemplos de como devemos seguir as leis do país e nos repassar conceitos éticos. Então, por que favorecer a família se vai contra as leis do Estado?
Vivemos lendo esses exemplos. E a História, a meu ver, só se completa quando os homens a entendem. A política não é entendida pelo povo? Que aprendizagem é essa tão difícil de compreensão? O povo gosta de sofrer? Não entendeu que alguns homens não podem fazer nossa história?
É preciso que determinemos o que vai ficar para ser ensinado a nossos filhos: “Devemos ‘comer sozinho no prato’ ”? O prato está sendo partilhado com quem lhe é de direito, o povo? Pensar nisso é uma questão do brasileiro dizer NÃO a certos candidatos que querem nos representar no Poder Público.