O Despertar da Fé
Pensei em diversos nomes para este texto: Heranças da minha Avó, Noites de Junho, Trezenas de Santo Antonio; fiquei com O Despertar da Fé, que vai direto ao ponto que quero focar.
Nasci numa família católica, fui batizada, fiz a preparação para a primeira comunhão e todo o ritual – esta vivência é assunto para outro momento - fui crismada, estudei em colégios de freiras e padres até prestar vestibular e ingressar na UFBA.
Os ensinamentos religiosos que me foram transmitidos alcançavam minha mente inquieta, questionadora, pronta para identificar as discrepâncias entre o que as ditas autoridades pregavam e como agiam, entre a visão que passavam de Deus, da vida, dos homens e os seus comportamentos incompatíveis com a tal visão. Tudo isto eu captava, analisava, refletia, discordava, não encontrava coerência e não me convencia. Meu coração não conseguia ser tocado pela maioria daquelas explicações.
Busquei nas religiões: Espiritismo, Budismo, Hinduísmo, Xamanismo, na filosofia e na psicologia respostas sobre o sentido de estar aqui, o sentido da vida.
Há alguns anos atrás comecei a refletir sobre a origem da minha fé. Sim, sou uma pessoa de muita fé e este é um bem que considero de muito valor. Mas, como isto brotou em mim? Naqueles inúmeros conflitos, questionamentos e incursões no meu mundo interior? Naqueles momentos que buscava as capelas vazias dos colégios onde estudei e ficava em silêncio e contemplação? Quando ouvia o Hino do Senhor do Bonfim e me emocionava? Quando admirava a natureza? Quando via alguém numa situação difícil e me compadecia?
Possivelmente já tenha trazido a semente da fé plantada em meu coração, porém, o que a fez despertar e envolver todo o meu Ser dando-me sustentação nesta vida foi o que vivenciei nas trezenas de Santo Antonio realizadas na casa de minha avó, na minha infância.
No mês de junho, Dona Paula, minha avó paterna e madrinha, e minhas tias preparavam o espírito e a casa para rezar todas as noites, até o dia treze, para o Santo. A casa humilde, num bairro pobre da cidade baixa de Salvador, transformava-se.
Na salinha que dava de frente pra rua era montado o altar com a imagem do grande homenageado e a cada noite uma das filhas se responsabilizava pela sua ornamentação, o arranjo das flores, a distribuição e disposição das velas, a preparação do turíbulo com o incenso. Claro que não podia faltar a parte gastronômica e profana do evento, que era composta de deliciosas iguarias juninas que as mesmas faziam com todo esmero: bolos de aimpim, carimã e milho, canjica, arroz doce, lelê e outras tantas.
Chegada a hora, filhos, noras, genros, netos, parentes e vizinhos postavam-se diante do altar com a devida reverência e concentração e como a sala pequena não comportava espaço para todos, alguns participavam na calçada da casa, acompanhando através da porta e janelas abertas. Minha avó, a matriarca do clã, com sua voz forte que ecoava por toda a vizinhança, puxava as orações em forma de cântico e todos cantavam juntos.
Eu, criança na faixa dos 8 aos 10 anos de idade, sentia-me transportada para outro mundo, suspensa nas alturas e envolvida em luz. As vozes carregadas de um sentimento que hoje sei que era FÉ impregnavam o ambiente juntamente com o aroma doce do incenso fartamente soprado. As palavras em latim, que eu desconhecia o significado por completo e o fervor daquelas pessoas criavam uma atmosfera mágica de acolhimento, conforto, pertencimento, união e transcendência.
Naqueles encontros minha fé foi despertada! Ali meu coração se abriu total e definitivamente para este sentimento, que é essencial à minha vida.
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Agradeço a Heliodoro Morais pelo generoso e carinhoso comentário, em forma de versos.
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Agradeço à Callena sua bela carta, gentil e carinhosamente tecida:
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/1843949
Pensei em diversos nomes para este texto: Heranças da minha Avó, Noites de Junho, Trezenas de Santo Antonio; fiquei com O Despertar da Fé, que vai direto ao ponto que quero focar.
Nasci numa família católica, fui batizada, fiz a preparação para a primeira comunhão e todo o ritual – esta vivência é assunto para outro momento - fui crismada, estudei em colégios de freiras e padres até prestar vestibular e ingressar na UFBA.
Os ensinamentos religiosos que me foram transmitidos alcançavam minha mente inquieta, questionadora, pronta para identificar as discrepâncias entre o que as ditas autoridades pregavam e como agiam, entre a visão que passavam de Deus, da vida, dos homens e os seus comportamentos incompatíveis com a tal visão. Tudo isto eu captava, analisava, refletia, discordava, não encontrava coerência e não me convencia. Meu coração não conseguia ser tocado pela maioria daquelas explicações.
Busquei nas religiões: Espiritismo, Budismo, Hinduísmo, Xamanismo, na filosofia e na psicologia respostas sobre o sentido de estar aqui, o sentido da vida.
Há alguns anos atrás comecei a refletir sobre a origem da minha fé. Sim, sou uma pessoa de muita fé e este é um bem que considero de muito valor. Mas, como isto brotou em mim? Naqueles inúmeros conflitos, questionamentos e incursões no meu mundo interior? Naqueles momentos que buscava as capelas vazias dos colégios onde estudei e ficava em silêncio e contemplação? Quando ouvia o Hino do Senhor do Bonfim e me emocionava? Quando admirava a natureza? Quando via alguém numa situação difícil e me compadecia?
Possivelmente já tenha trazido a semente da fé plantada em meu coração, porém, o que a fez despertar e envolver todo o meu Ser dando-me sustentação nesta vida foi o que vivenciei nas trezenas de Santo Antonio realizadas na casa de minha avó, na minha infância.
No mês de junho, Dona Paula, minha avó paterna e madrinha, e minhas tias preparavam o espírito e a casa para rezar todas as noites, até o dia treze, para o Santo. A casa humilde, num bairro pobre da cidade baixa de Salvador, transformava-se.
Na salinha que dava de frente pra rua era montado o altar com a imagem do grande homenageado e a cada noite uma das filhas se responsabilizava pela sua ornamentação, o arranjo das flores, a distribuição e disposição das velas, a preparação do turíbulo com o incenso. Claro que não podia faltar a parte gastronômica e profana do evento, que era composta de deliciosas iguarias juninas que as mesmas faziam com todo esmero: bolos de aimpim, carimã e milho, canjica, arroz doce, lelê e outras tantas.
Chegada a hora, filhos, noras, genros, netos, parentes e vizinhos postavam-se diante do altar com a devida reverência e concentração e como a sala pequena não comportava espaço para todos, alguns participavam na calçada da casa, acompanhando através da porta e janelas abertas. Minha avó, a matriarca do clã, com sua voz forte que ecoava por toda a vizinhança, puxava as orações em forma de cântico e todos cantavam juntos.
Eu, criança na faixa dos 8 aos 10 anos de idade, sentia-me transportada para outro mundo, suspensa nas alturas e envolvida em luz. As vozes carregadas de um sentimento que hoje sei que era FÉ impregnavam o ambiente juntamente com o aroma doce do incenso fartamente soprado. As palavras em latim, que eu desconhecia o significado por completo e o fervor daquelas pessoas criavam uma atmosfera mágica de acolhimento, conforto, pertencimento, união e transcendência.
Naqueles encontros minha fé foi despertada! Ali meu coração se abriu total e definitivamente para este sentimento, que é essencial à minha vida.
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Agradeço a Heliodoro Morais pelo generoso e carinhoso comentário, em forma de versos.
Mãe, esposa e companheira
E uma grande poetisa
Típica mulher brasileira
Terna e doce como a brisa
Com sutileza das flores
Dentro de tantos valores
Também se faz profetiza
Bravo grande poeta.
Beijos no coração!!!
E uma grande poetisa
Típica mulher brasileira
Terna e doce como a brisa
Com sutileza das flores
Dentro de tantos valores
Também se faz profetiza
Bravo grande poeta.
Beijos no coração!!!
Enviado por Heliodoro Morais em 02/10/2009 09:24
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Agradeço à Callena sua bela carta, gentil e carinhosamente tecida:
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/1843949