LÁBIOS EMUDECIDOS, O CORAÇÃO TALVEZ FALANDO, E A CANETA NÃO ESCREVENDO

Minha sogra foi uma pessoa maravilhosa, criou e bem doze filhos, embora não soubesse escrever nem o próprio nome.

O fato de educar bem os filhos já evidencia sua inteligência. Mas nunca estudou. Faltou-lhe oportunidade.

Desde que a conheci, a lembrança que mais tenho dela é trabalhando: amassando massas de pão, cuca, macarrão, cuidando da horta e das galinhas, levantando bem cedo para tirar leite das vacas, preparando o almoço e o jantar.

Vivia uma vida com simplicidade, rezava o terço todas às noites e educou os filhos tendo fé em Deus e dentro da moral cristã.

Ela morava em Rio do Oeste, em Santa Catarina, na zona rural. Esta cidade, vocês já devem tê-la visto na televisão por dois motivos: pelas enchentes que a deixou várias vezes debaixo d àgua;

e ela também é mostrada na televisão no programa da Globo rural, no mês de julho devido ao grande evento que acontece todos os anos: a festa da maior polenta do mundo.

Moro em São Paulo, fui nessa cidade inúmeras vezes antes e depois do meu casamento, pois minhas filhas passavam férias lá e, como a família é muito grande, sempre sou convidada para aniversários, casamentos, e muitas vezes vou para visitar os parentes que são muitos, e nos recebem com muito carinho.

O que eu mais admirava em minha sogra, é que muitas vezes ficava conversando com ela muito tempo e, nunca, durante mais de trinta anos , escutei falar mal de alguém.Essa virtude é que mais admirei nela, entre muitas outras .

Minha sogra após vários AVCs que a deixou muda, alimentando por sonda, sem andar, sem se comunicar com ninguém durante mais de quatro anos, finalmente Deus a levou.

Sempre pensei, ao vê-la sem poder falar, se ela pudesse escrever o que ela estava sentindo, seria melhor para ela e seus familiares. Aí está a grande importância da escrita. Nunca pude saber o que ela pensava após a doença.