De Portas Fechadas
Moro em uma pequena cidade no sul de Minas Gerais, mais ou menos 25 mil habitantes. A cidade está crescendo. Como sei? Toda semana inaugura um condomínio novo. Apartamentos grandes com quatro ou mais suítes, e outro, de quarto e sala. Moradias verticais, com cerca elétrica e sauna a vapor. Guaritas com vidro blindados, em tal de Zé, com barba por fazer. Uma síndica neurótica com taxas extras, diariamente aumentadas. Semana passada ela contratou mais dois seguranças, e mais alguns reais a mais em minha conta.
Enquanto isso minha pequena cidade, cresce, e deixa de ser assim tão pequena. E novos moradores se tornam montessionenses; e á pagina policial agora tem frente e verso. E novos agentes foram transferidos para cá. A noite não é mais a mesma. Roda de amigos conversando sobre o dono da quitanda que teve R$5, 000 e algumas laranjas roubadas em um assalto em plena luz do dia. E aqui no meu prédio, dito o mais seguro da cidade, essa semana uma senhora foi assaltada enquanto entrava com seu carro na garagem. Não sei nem o nome dela, mas tive medo, pois nem os vidros blindados e nem a cerca elétrica, com guardas em cada canto, conteve o crescimento e seus contras.
Quem é que está preso, eu ou bandido? Ele está do lado de fora, usufruindo da liberdade, que nos concedemos a eles. Pois prendemo-los lá fora. E nós do lado de dentro, estamos mais cada vez mais privados. Invejo-os, já que andam na rua durante a madrugada, sob o luar e as estrelas, sem sentirem medo. As únicas estrelas que vejo são as do descanso de tela do meu computador.
Se esse é o preço do progresso, sou definitivamente contra ele. Quero conhecer meus vizinhos pelo nome, e passear de bicicleta na rua da minha casa. Comprar uma casa com a porta voltada para a rua, e com um quintal enorme lá nos fundos. Dormir de janelas abertas. Ir ao cinema de mãos dadas, com a namorada e não ter pressa para voltar. Comer pipoca na praça e passar à tarde de domingo na matinê.
Que vantagem tem, em enriquecer, crescer, e ficarmos em casa o resto da vida, ou até que um meliante qualquer resolva arrombar minha porta?