Série "Ditados na berlinda" 19: Quando um não quer, dois não brigam?

Todo mundo tem um ídolo, ou até mais que um. Para mim, ídolo é aquela pessoa que teve condutas durante sua vida que me dizem algo, que fazem sentido, que me servem de inspiração - e que eu me sentiria feliz em seguir. Talvez por isso eu tenha tão poucos ídolos... na verdade consigo me lembrar de apenas um: Gandhi.

Verdade e não violência, dois princípios de sua conduta de vida que procuro seguir à risca. Quando me envolvi com a yoga, estes valores foram corroborados e assimilados, e assim, numa tarde de chuva daquelas que só servem mesmo para pensar, lembrei-me do ditado: quando um não quer, dois não brigam! E foi nesse dia que decidi: ninguém vai conseguir brigar comigo.

E assim tem sido. Não brigo, porque nunca quero. Claro que há algumas exceções - gente insistente, obstinada... Porém o fato é que, quando me zango, não me zango. Às vezes choro, emudeço, quase sempre relevo, dou de ombros, sorrio, no máximo ignoro. Mas não me zango.

Porém...

A carne é fraca, meu Deus! Às vezes tenho vontade de me zangar verdadeiramente. Mandar quem irrita, quem desrespeita, quem ignora, quem comete injustiças, para a ponte que partiu. Dar coices com minha metade cavalo e flechar com minha metade arqueiro, sob o calor de meu sangue latino. Mandar tomar caju sem gelo. Puxar imaginárias facas, navalhas, canivetes, peixeiras, adagas. Dar um croque, dar piti, enforcar num pé de couve. Ter ataques de histeria, atirar pedras, jogar na lama. Rodar a baiana, subir nas tamancas. Berrar, chorar, esbravejar, dizer todos os palavrões que conheço e outros tantos inventados. Chutar as paredes, arrancar os cabelos, gritar até que a garganta doa. Parecer uma louca para depois me sentir curada...

Mas não me zango. Às vezes choro, emudeço, quase sempre relevo, dou de ombros, sorrio, no máximo ignoro. Mas não me zango.

E não brigo, porque nunca quero.