Acordei e pensei...de que adianta ter 20 anos se
a cabeça prefere ter 85?
Esse negócio de chorar chorar por qualquer dorzinha
de amor desamor ou seja lá que dorzona for realmen-
te não está com nada.
Normalmente com 20 é choro de amor, aos 85 já lá
o choro é diferente, se não por desamor, por perda
de um naturalmente.
E como nada é por acaso na vida, ao abrir uma ga-
veta dessas em que a gente guarda aquelas coisas
que teimamos em guardar pra sofrer mesmo, um ma-
soquismo disfarçado e vestido de saudosimo, é que
encontrei a caixinha de Pandora.
Uma caixinha onde minha mãe guardava as lem  -
branças e vez  e outra a via choramingando seu pas-
sado que com certeza tivera dias de gloria na sua lembrança.

Tudo muito arrumadinho, enlaçado com fita, sepa -
rado por assunto desde flor seca até as antigas fitas
de Ella Fittgerald e outros antigos cantores da época recortes de revistas que ninguém, ou quase ninguém
lembra como O Cruzeiro, Manchete, Revista do Rádio
e outras tantas com artigos de Brigit Bardot. Mario
Lanza, Moreau e outros tantos que se fizeram idolos
para ela.
Coisinhas que ela guardava como fotos, hoje ama-
reladas e, que a faziam chorar quando algo não ia
bem.

Tudo isso coube dentro de uma caixa. Tudo amarro-
tado e guardado separado com fitas azuis.
E me peguei pensando; se vivi até aos 35, por que
não tenho nada para guardar numa caixa de Pan -
dora?  Talvez porque não vivi numa época como a dela,
ou quem sabe, porque sou diferente e vou armazenan-
do as recordações no coração onde o tempo não vai
ter chance de amarelar e ir apagando.
Meus afetos ficarão para sempre guardados herméti-
camente fechado no peito.

Quando eu chegar aos 85, minha filha não encontra-
rá nenhuma caixa nas gavetas, pois já terei conse -
guido dar bye bye ao que passou, e certamente serei
uma alegre senhorinha de 85.
ysabella
Enviado por ysabella em 30/09/2009
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1839968
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