CRISTA DE GALO
Meu amigo Bananal estava, como sempre, em viagem de trabalho, desta feita fazendo a praça de Frutal, no Triângulo Mineiro, quando de tardezinha tomou uma ducha caprichada no hotel, trocou de roupa e saiu pra dar uma volta pelas redondezas.
Na praça da Matriz observava rapazes e moças no “footing” daquela hora, quando se acercou dele um molecote dos seus dez, doze anos, caixa de engraxate no costado, e lhe pediu pra engraxar seus sapatos. O Bananal, vaidoso como ele só, não regateou. Sentou-se no banco do jardim, o moleque ajeitou a caixa, ele botou o pé direito e o pivete iniciou o seu trabalho. Daí a pouco o Bananal sentiu um cheiro forte de urina, olhou em volta, atrás do banco e nada! Mas aquela morrinha continuava incomodando suas narinas e ele não vacilou:-
“- Garoto, você mija na cama, por acaso? ...” – E o pequeno engraxate respondeu na bucha, sem o menor constrangimento:-
“- Ah, moço, eu costumo mijar na cama, sim senhor! Tenho esse problema, sabe? Desde pequeno.”
“- Mas você não tratou disso até agora, com esse tamanho todo?”
“- Pois é, tratar eu até tratei, sabe? Tenho um irmão mais velho e uma irmã, que também tinham essa mania. Minha mãe fez uma simpatia pra eles e resolveu o problema.”
“- Mas por que ela não fez a tal simpatia pra você também? ...”
“- Olha, ela até que fez. A simpatia é o seguinte:- ela mata um galo, corta a sua crista e leva na panela. Depois de ferventar, bota um pouco de farinha e me dá pra comer. Em seguida, pega o pescoço cozido do galo e enterra junto à touceira de bananeiras lá de casa. Eu venho, faço três voltas em torno do lugar e mijo em cima donde ela enterrou o pescoço do galo, sabe? Daí a três dias eu havia de estar curado.”
“- Havia? E você não ficou curado? O que houve? ...”
“- Não me curei, senhor. O que acontece é que não agüento comer a tal crista do galo! Fico enjoado e acabo vomitando. Minha mãe já matou três galos e ...nada! Ela agora diz que não vai ficar no prejuízo e se recusa a matar outro galo!”
“- E aí? ... Como a coisa fica?” – insistiu o Bananal.
“- Fica assim, eu continuo mijando na cama toda noite. E o que é pior:- mijo na pobre da minha irmãzinha, que divide a cama comigo, sabe? É um caso sério, moço! ...”
Bananal pagou pela graxa e o menino saiu assobiando. Na aragem da noite que se aproximava ficou um cheiro ardido, que teimava em se misturar ao perfume das flores do jardim da pracinha.
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