No trem da minha vida
Viajava nesse trem, sentada, confortavelmente, junto à janela, observando a paisagem. Flores de cores mil, pássaros cantavam num frenesi ensurdecedor, o verde da natureza se apresentava de forma comum, o rio serpenteava com suas águas calmas, pessoas de todas as etnias caminhavam celéres, o cão corria e latia bravamente como se defendesse seu território, de vez em quando era servida uma porção de felicidade, uma porção de experiência, uma porção de paciência, uma porção de prudência, uma porção de resignação, um cálice de tristeza.
O trem sacudia pra lá e pra cá, o ruído de suas rodas sobre os trilhos fazia-se monótono. Embora eu seguisse com determinada confiança, faltava-me algo, pois não deixava de sentir uma melancolia quase sufocante que invadia por completo meu coração. Indagava sobre a imensidão do universo, e era quase palpável a inquietação que me dominava, sentia um vazio e por mais que eu quisera alhures conseguia entender.
Deste modo seguiam-se os segundos, os minutos, as horas, as semanas, os meses, os anos... Do alto falante alguém anuncia: “próxima estação”; era apenas mais uma estação das tantas que eu já vira passar. No entanto, notei que algo de estranho se passava, pois eu estava experimentando uma sensação diferente, e meu corpo reagia a esta sensação quase que automaticamente; Meu coração acelerava loucamente como uma carroça desgovernada, minhas mãos transpiravam e eu sentia uma vontade incontida de chorar.
Levantei-me a fim de averiguar o que se passava, quando alguém entrou no vagão em que eu estava, logo percebi que não era uma pessoa comum, sua voz doce quase sussurrante, seu olhar meigo, seu sorriso cativante e sua alegria incontida, tornava-o irrestritamente diferente. Como por encanto tudo começou a se transformar ao meu redor, as flores brilhavam com cores que meus olhos jamais haviam contemplado, os pássaros gorjeavam alegremente, o verde das matas mais pareciam esmeraldas de tão reluzente que era, as águas dos rios cintilavam como se houvera milhões de estrelas dentro delas, o sol doava seu calor morno e aconchegante. A felicidade e a esperança eram servidas em taças generosas. A alegria se expandia como se quisera abraçar a todos que ali estavam. Brincávamos, ríamos, quando ouvimos novamente o anúncio, da próxima estação. Ele levantou-se e disse-me que desceria naquela estação; tomada de dor, minha agonia era quase gritante, faltou-me o ar, fiquei sem direção, quis descer nessa estação, mas o senso chamou-me a razão.
Voltei, sentei no meu banco, desolada, fitando o horizonte, queria entender o "porquê"... Lágrimas inundavam o meu rosto e uma saudade indescritível abatia-se sobre mim. Tinha calafrios, fiquei inerte, envolta em meus pensamentos e tão absorvida estava neles que não notei quando alguém sentara ao meu lado. Barbas e cabelos brancos, sua expressão era um misto de serenidade e compaixão o que lhe conferia grande sabedoria.
Era o tempo. Logo ele foi me dizendo que compreendia a minha dor, mas que eu havia tomado a minha decisão acertadamente que não teria sido prudente eu ter descido naquela estação, pois eu havia conhecido o amor na sua essência mais pura e que para vivê-lo eu teria de sorver melhor a paciência, a resignação, a esperança, a prudência, a experiência a dor a tristeza o sofrimento... Que eu desse tempo ao tempo que continuasse no trem da minha vida, pois era imperioso que eu percorresse as estações restante no meu caminho a fim de aprimorar as experiências adquiridas ao longo de minha vida e que um dia eu entenderia que a felicidade é o antídoto contra a dor a tristeza e o sofrimento, um instrumento precioso concedido por Deus que somente eu teria de saber como usufruir dela, mas para que isso ocorresse eu teria de saber empregar meus conhecimentos e sapiência de maneira a não causar sofrimentos a outrem e nem a mim mesma.