ENTRE O CÉU E AS ESTRELAS
A vida corre em paralelo com a alegria e a tristeza. Ela é constituída de momentos vividos conforme esta natureza, e isto é o que faz dela um mistério constante.
O dia era de espera e ansiedade, e pelo menos a metade da cidade se enfeitara das cores do céu, do sangue e da paz, ela era uma "Fortaleza", que havia subjugado seus últimos três adversários esportivos, num jogo realmente admirável, o futebol, cujas sutilezas são capazes de volatizar nos corações os mais diversos sentimentos. A paixão por um clube é uma delas.
A tarde caía e o sol reclinava-se mais uma vez num espetáculo de encher os olhos. Os torcedores já começavam a chegar àquela praça de esportes, palco de sorrisos e lágrimas, sonhos alimentados pela esperança de uma vitória, das bandeiras que tremulam incessantemente, constituindo-se num panorama à parte, um verdadeiro festival famular. O esporte das multidões colocaria naquela noite 32 mil almas diante de duas equipes a degladiarem-se agonisticamente por noventa minutos. Uma peleja de estrelas. Ao final do embate, alegria e tristeza, esperança renovada, consciência pelo trabalho realizado, reformulações de ações e posturas, aprendizado, alívio de uns, pesado fardo para outros, é o que geralmente acontece.
Quando adentramos nos muros dos estádios de futebol é porque temos um propósito de estarmos lá, seja qual for, o fato é que ao sairmos, o estado de nossa alma é diferente de quando entramos, e ninguém jamais conseguiu apreender o que se passa com a alma de outra pessoa. O pulsar das emoções nos transporta por um mundo surpreendente, capaz de nos mostrar os mais diversos papéis que um ator possa representar. Assim somos nós, homens e torcedores, seres atribulados emocionalmente, sem nos apercebermos dos limites de nossos sentimentos.
Tudo parecia estar funcionando perfeitamente, a equipe “Tricolor de Aço” dava pistas que mais uma vez a vitória se desenhava naquela noite. O placar marcava a vantagem de um gol sobre o seu adversário (Atlético Mineiro), que lutava bravamente para sair-se daquela situação incômoda. O estádio enchia-se de uma luminosidade estonteante, a alegria era geral. Inacreditável, uma campanha digna de aplausos até o momento. Entretanto, o futebol é tido como uma caixa de surpresas, e um presente de grego nunca poderá estar descartado, tudo pode acontecer. O time adversário chega ao empate. -Menos ruim! O pior para todos seria a derrota! Assim comentavam-se os espectadores.
Durante o intervalo, um acontecimento chama a atenção de todos. Algo de muito grave acabara de ocorrer, um acidente para ser mais preciso. Em um momento fatídico, um jovem torcedor, inadvertidamente, arrisca-se a ficar de pé sobre a mureta de proteção do anel superior das arquibancadas. Como podemos saber o que se passa com a alma do outro? Por um instante ele estava lá, radiante, vibrante, sorriso largo no rosto, alegre. No instante seguinte, constituía-se num náufrago lançado ao espaço. Um vôo angelical, áptero, porém brutal. Iniciava-se naquele momento um pesadelo para nossos olhos encortinados pelo sinistro fatal, enquanto ele jazia agonizante no frio e cinzento cimento. Comoção narrada pelas emissoras de rádio e registrada em imagens bizarras.
Naquele momento, o estádio estarrecido pelo acontecimento, travava uma luta terrível com cada um de nós. Dúvidas cruéis invadiam aquele recinto esportivo, trazendo a tona o tão indesejável sentimento de impotência diante do sofrimento eterno, de adormecer na morte sem amanhã, na esperança da ressurreição. Joaquim Nabuco já dizia que nem as flores, nem as frutas foram feitas para durar, mas sim a árvore. Isso me faz pensar que tipo de árvore somos nós, cujos corpos dissolvidos na natureza passam a fazer parte de outras vidas.
Tão forte como o próprio acontecimento foi seu desfecho. A chegada do Instituto Médico Legal aquela praça de esporte foi grotesca. A imagem do rabecão desfilando ao lado do campo não só incomodava, mas, machucava. O silêncio era aterrorizante. Aquilo dilacerava o eu existente, presente naquela violência, pela falta de coerência e bom senso de uma autoridade insensível a um momento tão delicado e sofrido. O ser humano fora tratado friamente, a morte, a única certeza de que temos em vida, foi destituída de seu mistério, frente a crianças, jovens, homens, mulheres, idosos, pais e mães. Ela fora destituía de sua santidade, de sua grandeza como realidade, mas, negada como uma vida superior e mais profunda, larga em sua essência.
Vagarosamente aquele carro fúnebre exibindo em grandes letras verdes IML pervagava diante do público, que atônico e mudo, saudava seu fiel torcedor com uma salva de palmas, quem sabe, aplaudindo a glória de Deus Pai frente à vida, lembrando que a dor acompanha sempre a concepção do que é verdadeiramente grande.
O dia era de espera e ansiedade, e pelo menos a metade da cidade se enfeitara das cores do céu, do sangue e da paz, ela era uma "Fortaleza", que havia subjugado seus últimos três adversários esportivos, num jogo realmente admirável, o futebol, cujas sutilezas são capazes de volatizar nos corações os mais diversos sentimentos. A paixão por um clube é uma delas.
A tarde caía e o sol reclinava-se mais uma vez num espetáculo de encher os olhos. Os torcedores já começavam a chegar àquela praça de esportes, palco de sorrisos e lágrimas, sonhos alimentados pela esperança de uma vitória, das bandeiras que tremulam incessantemente, constituindo-se num panorama à parte, um verdadeiro festival famular. O esporte das multidões colocaria naquela noite 32 mil almas diante de duas equipes a degladiarem-se agonisticamente por noventa minutos. Uma peleja de estrelas. Ao final do embate, alegria e tristeza, esperança renovada, consciência pelo trabalho realizado, reformulações de ações e posturas, aprendizado, alívio de uns, pesado fardo para outros, é o que geralmente acontece.
Quando adentramos nos muros dos estádios de futebol é porque temos um propósito de estarmos lá, seja qual for, o fato é que ao sairmos, o estado de nossa alma é diferente de quando entramos, e ninguém jamais conseguiu apreender o que se passa com a alma de outra pessoa. O pulsar das emoções nos transporta por um mundo surpreendente, capaz de nos mostrar os mais diversos papéis que um ator possa representar. Assim somos nós, homens e torcedores, seres atribulados emocionalmente, sem nos apercebermos dos limites de nossos sentimentos.
Tudo parecia estar funcionando perfeitamente, a equipe “Tricolor de Aço” dava pistas que mais uma vez a vitória se desenhava naquela noite. O placar marcava a vantagem de um gol sobre o seu adversário (Atlético Mineiro), que lutava bravamente para sair-se daquela situação incômoda. O estádio enchia-se de uma luminosidade estonteante, a alegria era geral. Inacreditável, uma campanha digna de aplausos até o momento. Entretanto, o futebol é tido como uma caixa de surpresas, e um presente de grego nunca poderá estar descartado, tudo pode acontecer. O time adversário chega ao empate. -Menos ruim! O pior para todos seria a derrota! Assim comentavam-se os espectadores.
Durante o intervalo, um acontecimento chama a atenção de todos. Algo de muito grave acabara de ocorrer, um acidente para ser mais preciso. Em um momento fatídico, um jovem torcedor, inadvertidamente, arrisca-se a ficar de pé sobre a mureta de proteção do anel superior das arquibancadas. Como podemos saber o que se passa com a alma do outro? Por um instante ele estava lá, radiante, vibrante, sorriso largo no rosto, alegre. No instante seguinte, constituía-se num náufrago lançado ao espaço. Um vôo angelical, áptero, porém brutal. Iniciava-se naquele momento um pesadelo para nossos olhos encortinados pelo sinistro fatal, enquanto ele jazia agonizante no frio e cinzento cimento. Comoção narrada pelas emissoras de rádio e registrada em imagens bizarras.
Naquele momento, o estádio estarrecido pelo acontecimento, travava uma luta terrível com cada um de nós. Dúvidas cruéis invadiam aquele recinto esportivo, trazendo a tona o tão indesejável sentimento de impotência diante do sofrimento eterno, de adormecer na morte sem amanhã, na esperança da ressurreição. Joaquim Nabuco já dizia que nem as flores, nem as frutas foram feitas para durar, mas sim a árvore. Isso me faz pensar que tipo de árvore somos nós, cujos corpos dissolvidos na natureza passam a fazer parte de outras vidas.
Tão forte como o próprio acontecimento foi seu desfecho. A chegada do Instituto Médico Legal aquela praça de esporte foi grotesca. A imagem do rabecão desfilando ao lado do campo não só incomodava, mas, machucava. O silêncio era aterrorizante. Aquilo dilacerava o eu existente, presente naquela violência, pela falta de coerência e bom senso de uma autoridade insensível a um momento tão delicado e sofrido. O ser humano fora tratado friamente, a morte, a única certeza de que temos em vida, foi destituída de seu mistério, frente a crianças, jovens, homens, mulheres, idosos, pais e mães. Ela fora destituía de sua santidade, de sua grandeza como realidade, mas, negada como uma vida superior e mais profunda, larga em sua essência.
Vagarosamente aquele carro fúnebre exibindo em grandes letras verdes IML pervagava diante do público, que atônico e mudo, saudava seu fiel torcedor com uma salva de palmas, quem sabe, aplaudindo a glória de Deus Pai frente à vida, lembrando que a dor acompanha sempre a concepção do que é verdadeiramente grande.