Um fusca chamado Marilene!

Foi um esfôrço danado, mas conseguí realizar o meu primeiro grande sonho de consumo!

Havia "paquerado" Karman Ghias, Dauphines, Gordines, DKVs ..., no entanto só pude adquirir um surrado FUSQUINHA 63, Azul Pavão ...

O inicio do "relacionamento" foi um tanto quanto constrangedor ... habilitado há pouco tempo, sem muito experiência nas "manhas de dirigir", deixava constantemente que o mesmo "afogasse" e com vergonha de solicitar auxilio para empurrar, praguejando e, às vezes, até desferindo alguns murros e pontapés no "pobre ser inanimado", tinha de empurrar sósinho até encontrar alguma descidinha onde pudesse fazer o mesmo "pegar no tranco" para prosseguir a minha viagem ...

Minha familia, migrante nordestina e bastante humilde, recebeu a chegada do novo integrante como uma "dádiva divina". Parte do velho muro da casa alugada foi posto abaixo a golpes de marreta para abrigar em local seguro o "patrimônio do filho abastado"!

Foram tempos de felicidade e de muito alto astral. Época do "boom" da indústria automobilística no ABC. Início do forte sindicalísmo reividincatório, com lideranças emergentes como aquele que hoje é o máximo mandatário do nosso país!

Porém, um fato bastante marcante ainda estava por vir ...

Uma grande aventura foi engendrada e posta em prática em 1971. Uma ida até a Cidade Maravilhosa acompanhado de um irmão mais novo, à bordo do "possante" fusca azul pavão!

Nos quase 500 km rodados na ida, nem um pneu furado. "Cabeça fresca" em todo o trajeto de ida, pois, como se comentava à época (e creio que até nos dias de hoje ...), "peças de reposição para fusca se achava até em quitanda" ...

No retorno aquele já tão precioso e "muito estimado" bem, trazia em seu interior mais uma integrante. Na realidade, ela havia sido a principal motivação para a aquisição daquele "patrimônio"!

A viagem transcorreu "nos conformes" tal qual havia sido na ida, até o último pedágio da Via Dutra. No momento do pagamento da taxa, o danado do fusca "resolveu" acelerar de uma forma "desordenada" mesmo se encontrando em "ponto morto" e parado no guichet. Orientado pelo fiscal, seguí mesmo acelerado até o acostamento mais próximo onde, com o auxilio de meu irmão e olhares desconfiados da noiva Marilene, erguí a tampa do capot e observei o que havia ocorrido no motor. Simplesmente, a mola que dá sustentação ao pedal do acelerador havia se rompido, daí o motivo da aceleração "desenfreada" ...

Tentamos esticar o pedaço que havia restado da mola, porém, como a mesma era feita com um aço temperado e o pedaço restante era muito pequeno, ficou impossível de conseguirmos o que estávamos idealizando ...

Foi quando ao olhar para a minha paciente noiva postada ao nosso lado, verifiquei que ela estava com os cabelos presos por um destes mimos que as donzelas utilizam, com dois pompons unidos por um elástico e veio a idéia "luminosa" ...

Solicitei que ela me "emprestasse" aquele elástico e o colocamos fazendo as vezes da mola quebrada do acelerador.

Sem problema, viagem reiniciada, chegamos são e salvos ao nosso destino no ABC e, guardadas as devidas proporções, o ato de dirigir ficou até mais leve em virtude de o pedal do acelerador ter ficado "mais maleável". Concluímos, com alívio: "Peças de reposição para o fusca, encontramos até em quitanda ..." e emendamos. "e até em cabeça de noiva, como prendedor de cabelo ..."!

HICS
Enviado por HICS em 30/09/2009
Código do texto: T1839569
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