Depois que revelei o mistério...

Lá onde eu trabalhava, tinha uma funcionária antiga da Casa que me detestava. Nunca soube o motivo. Eu sempre a tratava bem, sem salamaleques, porém. Com respeito a cumprimentava e agradecia, se alguma coisa precisasse da secretaria.

Com o tempo descobri que não era só comigo que ela implicava. De eterno mau humor, esbravejava até com a própria sombra. Por causa disso, ninguém lhe dava atenção. Ela andava de um lado para outro, se imiscuía naquilo que não era da sua conta, sempre provocando discussão.

Um belo dia, estando eu na sala dos professores, eis que entra Madame batendo o salto toc-toc no assoalho bem lustrado. Vinha ela retumbante quando de repente, zás, escorregou. E como Terezinha de Jesus, de uma queda foi ao chão. Caiu sentada, de pernas pro ar, a saia arregaçada. No momento não havia ali cavalheiros, nem damas de chapéu na mão. Eu mesma fui acudir, livrando-a da penosa, e quase vergonhosa, situação.

Daí em diante, que mudança! Madame era só sorrisos para mim. E passou também a tratar todo mundo com mais cordialidade. De sua boca só se ouvia merci pra cá, napádecuá pra lá.

Ninguém atinava a razão. Depois que revelei o mistério, não faltaram gozações. Sabíamos todos que uma cacetada na cabeça pode “consertar” alguém. Mas na poupança... foi inédito! Nunca tínhamos ouvido falar...