NA CABINE DO PILOTO
Sempre que viajo de avião sinto uma irresistível vontade de conhecer a cabine de controle das aeronaves com seus incontáveis botões, tirar algumas fotos e conversar um pouco com o comandante fazendo perguntas sobre aquele universo complexo e inusitado conhecido e manipulado por uns poucos privilegiados. Mas nunca me arrisquei a pedir autorização nesse sentido por não vislumbrar no semblante dos comissários uma receptividade simpática capaz de vencer minha timidez. Nas escalas demoradas, especialmente nos voos internacionais, quando a porta da cabine permanece algum tempo aberta, de longe eu ficava observando aquele ambiente desconhecido e interessante querendo vencer o receio de solicitar permissão para adentrar o recinto, sem contudo lograr êxito. Assim, o anseio de conhecer e fazer descobertas ia sendo postergado.
Mas quando voltávamos de nossa segunda viagem a Buenos Aires, com a primeira escala marcada para Assuncion, no Paraguai, discerni que o momento certo para tentar visitar a cabine do piloto chegara. E vi isso no sorriso acolhedor da comissária chefe cujo tratamento com os passageiros merecia elogios. Atendendo a todos com cortesia e atenção, comandava sua equipe com liderança e amabilidade dispensando principalmente a nós passageiros todo cuidado necessário para tornar nossa viagem agradável e serena. Ao aterrissarmos no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, da capital paraguaia, eu nem de longe pensava em fazer uma tentativa de chegar à cabine e pedir para entrar e conhecer, aliás eu nem vinha lembrando a possibilidade da concretização desse sonho, como usualmente faço. Isso só aconteceu quando diversas pessoas desembarcaram em Assunção e nós ficamos no avião aguardando a chegada da leva de viajantes oriundos daquele país enquanto funcionários da empresa aérea limpavam e reabasteciam o avião com o necessário ao prosseguimento do trajeto até Curitiba, nossa próxima escala.
Notando a porta do comando entreaberta e a comissária chefe trocando palavras com o piloto, o avião quase vazio e as aeromoças conversando animadamente aqui e ali, repentinamente o desejo do velho sonho reacendeu em meu coração. Olhei para minha esposa e disse que tentaria permissão para entrar na cabine, não perderia novamente mais essa oportunidade. E fui, expliquei minha pretensão à comissária e ela, para minha gloriosa surpresa, aquiesceu, falou para o comandante, que também concordou sorridente, e ainda pediu a máquina para tirar fotos de mim todo cheio de pernas entre os infindáveis botões do painel de controle do avião. Muito bem recebido pelo comandante, que me disse para sentar numa das poltronas da cabine, e seu co-piloto, fiquei deslumbrado olhando tudo e fazendo perguntas. A tudo eles me respondiam sorrindo - e até fizeram várias poses ao meu lado para as fotografias tiradas pela comissária chefe - me deixando completamente à vontade. Foi uma rica experiência e a realização de um velho sonho de criança, tempo em que eu, pequenino risco lá no chão, olhava admirado os aviões sobrevoando as nuvens e sonhava com a possibilidade de, um dia qualquer da vida, cujas voltas são tantas e surpreendentes, malgrado minha origem eivada de simplicidade, ter a chance de entrar na cabine onde os ágeis pilotos conduziam com leveza e tranquilidade aquelas imensas aves de aço pelos céus do Brasil e do mundo. Depois de muitas fotos, os cumprimentos dos pilotos e meus agradecimentos saí emocionado daquele ambiente exclusivo onde poucos têm autorização para entrar e conhecer, ademais recebendo toda atenção e cortesia dos tripulantes e seu comandante. Minha esposa, lágrimas nos olhos teimando em não descer pelas faces, abraçou-me e eu a beijei.