Só uma pegadinha...

Nossa como estou tenso... A mil por hora! Preciso me acalmar. Só consigo relaxar de duas maneiras: batendo um sexo gostoso ou escrevendo. Ah, às vezes, também fazendo um delicioso feijão-cearense. Como a primeira e a ultima são inviáveis, no momento, vou me aliviar escrevendo isto.

Precisei dar um pulinho em Sampa, ontem. Embarquei, desembarquei... Peguei o Linha Vermelha. Apeei na Linha Amarela, em eterna construção. Uma escada rolante e uma bela caminhada; mais uma escada enorme e outra boa caminhada; as roletas, mais uma caminha para, enfim, pegar a última escada e, então, à rua. Mas e a chuva torrencial que banhava São Paulo? Ninguém ousava enfrentar a saraivada de vento, lama e chuva que se adentrava ao Metrô.

O que não tem remédio, remediado está. Não ia morrer se esperasse meia horinha. Num átimo fiquei rodeado de gentes de todo o Brasil e partes do mundo. Enfiei-me, entretanto, nos peões da eterna construção da referida Linha Amarela. Pareciam formigas: uns martelavam, outros puxavam entulho; riscavam, mediam, encaixavam piso... Lavavam azulejo recém colado, transportavam enormes tábuas e um, certamente cearense, cuja cabeça me lembrou o aeroporto Pinto Martins, falava ao celular...

É incrível como a gente se lambe e se reconhece! Mirei cada semblante e me vi completamente refletido em cada um deles, apesar de nunca haver trabalhado na construção civil! Silenciosamente identifiquei todos: - Aqueles são baianas, aqueles alagoas, paraibanos e pernambucanos, sergipano e potiguar, piauiense e filhos de Iracema.... Sem exceção, ali estava toda a nação nordestinense! Eu não tenho orgulho de ser nordestino; eu tenho gratidão e a Deus agradeço sempre que posso.

Entretanto o que me estarreceu, foi um negão de quase dois metros, africano, um gorrinho branco na cabeça, um camisolão esverdeado/amarelado, cheio de lantejoulas a rutilarem, sapatos e valise castor... Detalhe: a valise me pareceu muito velha, como se tivesse sido retirada do lixo. Até aí, tudo normal, em se tratando de africanos com suas risadas estridentes e idiomas cantantes no centro de São Paulo. Mas, ladeando o negão, dois negrinhos mais baixos, mas fortes e entroncados.

Deduzi que os dois negrinhos (fubazentos, mal-vestidos) protegiam o grandão de gorrinho branco, pois, não descuidavam um segundo sequer! Só podiam ser segurança! Concluí: trata-se de uma mini-corte africana em viagem pelo Brasil.

A chuva passou, a multidão se dispersou e a Avenida Ipiranga estava alagada, suja e descuidada. Pensei assim: - Meu Deus, como pode uma cidade dar tanto a todos e nada receber em troca?!

Acalmei. Vou tomar um banho, dar uma voltinha em Rietê e depois dormir. Amanhã, reviso.