APANHEI DEMAIS, COM PAU...

APANHEI DEMAIS

Sempre tive um gênio do cão.

Perdi meus Pais muito cedo e fui morar com minha vô que não me agüentou e fui para na casa da tia Mercedes que esses dias desencarnou... Ela sabia que eu a amava...

Gostava de ser líder em tudo junto na roda de amigos.

Jogava figurinha, batia nos moleques, soltava pipa, bolinha de gude...coisa bem estranha na década de 70 mas quem iria ter coragem de falar isso para mim?

Meu vovô colocou meu apelido de Negão de tão terrível que eu era.

Tia Mercedes uma santa, ia para a igreja todos os dias a Assembléia de Deus.

Era ruim dela me levar e então eu ficava em casa trancada.

Eu tinha um jeitinho de abrir a janela e fugir. Ia à rua de baixo na casa de um amigo que reunia a galera todo dia para fumar escondidos e ouvir música.

Adorava a liberdade que os pais de meu amigo dava para ele. O que tem de errado isso? Querer conversar com amigos e ouvir música?

Tia Mercedes e todos meus parentes não pensavam assim, para eles lugar de mocinhas era dentro de casa aprendendo a bordar e cozinhar para quando casar o marido ter tudo. Ta bom... Ele que não fosse prendado... Ia morrer de fome.

Minhas primas com 10, 12 anos já tinha até enxoval, que ridículo, isso não combinava comigo. Elas viviam com aqueles laços enormes nas cabeças e todas engomadas, écaaaa!

Por isso eu pagava um preço caro, viviam me policiando.

Eu não deixava que meus amigos percebessem isso, senão onde iria parar minha fama de durona?

Eu falava que nem pedia, que saia e pronto, que eu fazia exatamente o que queria.

Tinha minha prima Zé Povinho que às vezes quando a tia saia ela ficava da escada da casa dela espiando se eu iria fugir. Que idiota o que tem com minha vida? Ela é casada e devia era cuidar daquele marido babão dela que vivia de olho em minhas pernas. Panaca...

Arrumei um namorado, seu nome era Demétrio rsssss ele era zaroio rssss, mas eu o amavaaaaaaaaaa perdidamennnnnnte! Esses amores de 11 anos.

Todo dia a tia ia para a igreja e eu fugia para encontrar Demétrio na esquina de casa mesmo.

Eu estava ficando atrevida, já que ninguém me pegava, eu fui relaxando o cuidado.

Até o dia que a luz acabou, o bairro todo ficou no escuro eu na esquina com Demétrio , até gostei, ficou escurinho e a cambada de Zé Povinho não iria passar olhando.

Só esqueci de um detalhe... se acabou a luz no bairro, havia acabado na igreja também.

Quando menos espero vejo o vulto da tia Mercedes, quase meu coração saiu pela boca. Escondi-me nas costas de Demétrio

Demétrio falou que eu estava gelada. Eu falei, se ele não tinha visto quem acabou de passar.

Ele falou que qual era o problema? Eu fazia o que queria e a tia nem ligou .

Mal sabe ele que a tia é meio cega de dia imagine a noite...

Falei que não era nada não, só uma questão de respeito e era claro que eu fazia o que queria.

Ele falou tantas coisas mas confesso que não ouvi nada. Estava apavorada e pensando em que desculpa iria dar. Já sei... Vou falar que sou sonâmbula para tia. Ela vai cair, sempre a engano.

De repente o Demétrio estava me beijando quando só vi uma paulada na cabeça dele.

Era a danada da tia que fingiu não me ver para pegar o pau. Demétrio saiu correndo e gritando e quando a tia mirou o pau em minha cabeça, eu fechei os olhos estiquei os braços e comecei a perguntar. Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por um momento um silencio pairou no ar e quando abri o cantinho do olho para ver o que se passava. Só senti as pauladas. Sai correndo e a tia atrás...Ô velhinha que corre viu?

Pior que todos meus amigos estavam olhando. e as pauladas comendo. Quem sou eu já nem sabia naquele momento, mas para onde ir sabia exatamente... Entrei correndo em casa e me escondi embaixo da cama. Quando passei pelo quintal ainda percebi minha prima, aquela vaca da Maria rindo nos degraus da escada da casa dela...

A turma tirou sarro de minha cara um tempo e depois esqueceram, assim que dei uma surra em uma sardenta metida a besta que estava namorando o Demétrio. E coloquei apelido nele de Zaroio. Minha tia que colocou na realidade. Ela sempre perguntava se eu não tinha vergonha na cara de namorar aquele bicho feio e Zaroio... Coisas de tia.

Com o tempo a tia foi me deixando, e hoje ainda lembro bem da tia. Que me chamava de pinga fogo.

SAUDADE DE VOCE TIA MERCEDES. ATÉ QUALQUER DIA!