OS MUITOS 'BRASIS' NO BRAZIL

Regina Kalmann

O ‘Brazil’ é uma nação historicamente iniciada com a chegada dos portugueses, que ocuparam o território do Novo Mundo, desde 1500 da nossa era. O interesse era exclusivamente econômico na disputa entre duas novas nações que se formaram no fim do século XIV , numa tentativa de centralizar o poder real com a ajuda da burguesia, lutando contra a nobreza feudal.

A vinda dos lusitanos passou a ser paulatina e a colonização começou , no início com um contato amistoso com os nativos silvícola , mas acabou sendo imposta e dominadora social, religiosa , política e economicamente foi ocorrendo, principalmente devido à disputa entre as nações européias, que tinham em mente somente o domínio econômico e político entre si, sem se preocupar com o povo das colônias.

No caso brasileiro, durante três séculos de domínio da Coroa portuguesa, havia o objetivo de enriquecer a metrópole, e na falta da descoberta de ouro no século XVI e XVII, a economia tornou-se agrícola, e vem a monocultura açucareira. Para isso, o engenho acabou o responsável pela vinda do tráfico negreiro e da população negra de diversas nações africanas, que tinham suas aldeias saqueadas , ou raptados e levados à força para as colônias do Novo Mundo, entre as quais , o Brasil. Isso continuou depois, com a descoberta de minas de ouro e pedras preciosas.

Os nativos silvícola, conhecidos como ‘índios’, foram sendo escravizados e dizimadas, além de serem vistos sem as diferenças existentes entre os diversos grupos tupi-guaranis que tinham sua própria cultura, língua ou costumes, passaram a serem submetidos, o que continuou durante séculos.

Durante séculos, os africanos foram sendo subjugados como etnia usada como mão-de-obra escrava , inferior, que no entanto, foi deixando sua marca cultural , na medida que foi muitas vezes a ama de leite do ‘sinhozinho’, quem cozinhava e usava seu tempero na alimentação das casas-grandes, na medida que várias palavras, traços culturais e costumes foram sendo aculturados. A miscigenação foi ocorrendo, quando ocorreu o cruzamento entre os portugueses e os descendentes africanos.

Com a independência de Portugal, a escravidão negra continuou até o fim o império, sendo que foi a última nação americana que pós fim à escravidão política. No entanto, essa imensa população foi liberada, mas ficou sem rumo, despreparada, sem possibilidade de sobrevivência digna, numa sociedade que via o afro-descendente como inferior, submisso ou impossibilitado de mostrar todo o seu potencial, visto que perdeu o elo com o seu antigo lar, mas também não sabia sobreviver no atual.

Com a vinda da imigração, principalmente a italiana , alemã, entre outras, nas regiões sul e sudoeste , no século XIX,que fugindo das revoluções políticas nos seus países, começam a trabalhar na lavoura e nas fazendas principalmente de café, a situação política e econômica do Brasil Império foi modificando, e as forças dos abolicionistas e republicanos acabou por trazer a abolição e a proclamação da República.

No entanto, a situação da população negra não modificou muito em relação à sobrevivência e a inclusão na estratificação social.

A política brasileira foi modificando, passando por república de grupos dominados por oligarquias, por ditaduras, no entanto, a legislação brasileira teve uma Constituição baseada na Declaração dos Direitos Humanos, onde , pelo menos legalmente coloca todos iguais, e na nossa atual Constituição Federal de 1988, no art. 5º.- Dos Direitos e Garantias Fundamentais, no art. : “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos”...

E no art. 6º. Dos Direitos Sociais :” São direitos sociais a educação , a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Assim, o Brasil por ter sido uma nação aberta à imigração, tem também uma lei que dá essa igualdade de direitos a todos seus habitantes legais.

Nas escolas, ao se estudar a cultura brasileira, dividem-se os grupos étnicos ou ‘raças’em ‘vermelha’ (indígenas), ‘branca’ (europeus) e ‘negra’ ( afro-brasileira). E estuda-se a miscigenação e a aculturação dessas etnias. Essa divisão é simplesmente didática, e muito simplificada, distante da realidade, mas que mostra um País formada por várias nações e etnias. Essa mistura acabou formando um País diferente de qualquer outro no Globo, onde todos são iguais em direitos. O que há na verdade, é uma diferença econômica e de possibilidades.

As constantes migrações internas, devido a problemas econômicos, deslocam povos das regiões sul para norte, do nordeste e sul ,para o sudeste, centro-oeste . Assim, surgem diversos ‘brasis’ no Brazil, e como o pólo industrial é na região sudeste, é onde há uma mistura étnica e cultural mais acentuada , e onde há também a maior competição no setor econômico e social.

Outra característica brasileira é a miscigenação , a língua abrasileirada, a aculturação e religiosa é aceita de forma muito mais clara e saudável, do que em qualquer outro País global.

Estudar e a sua cultura e origem, viver em grupos de remontam à mesma história , costumes e língua, é benéfico e saudável. Porém pode ocorrer a falta de auto-estima e o sentimento de inferioridade em relação à origem racial ou mesmo, em relação a outros países.

O que precisa ser feito é a valorização regional, cultural e social , pois em todas há uma característica própria e importante histórica e culturalmente falando. A descaracterização ocorre devido aos grupos se afastarem do seu meio de origem e do seu grupo social, e aos poucos as integrações acabam passando para a ‘divisão’ em , assim chamadas ‘classes sociais’, mais determinados por oportunidades econômicas. E para ‘subir’ de status na estratificação social, pode-se faze-lo com preparo profissional , principalmente com a escolarização.

Existem outros meios socialmente aceitáveis como a participação comunitária filantrópica, social, política, na arte, ou seja, contribuindo de alguma maneira com a sociedade.

A visão que alguma etnia é superior ou inferior à outra é uma visão preconceituosa e ignorante, já que todas tem sua beleza e importância, e a mistura ou miscigenação cria uma ‘raça’ mais forte, bonita e protegida de doenças hereditárias que advém de cada uma delas. A aculturação também só tem a acrescentar a todas as culturas que se entrelaçam. Por essa razão, as oportunidades em entrar nas universidades federais estatuais, devem ser repensadas, a seleção ser revista, abertas à toda a população humilde, principalmente da rede pública , sem cotas, sem diferenciar por descendência, origem social ou étnica, pois todos podem e devem tentar melhorar sua vida escolar e oportunidade de melhorar profissionalmente. Vamos exercer a igualdade que conquistamos na nossa Carta Magna.

Os direitos são iguais, as diferenças nós é que fazemos quando vamos atrás das oportunidades , continuar diante dos desafios, persistência e os esforços realizados dentro da sociedade global. Cabe a cada um se vai querer apenas ‘ter’ ou ‘ser’. A educação é a ‘escada’, a porta aberta para se tornar cidadão participante e ativo.Sobreviver é participar.

Vamos passar de “Brazil” para Brasil de forma completa, aproveitando todos os direitos e respeitando os deveres de cada brasileiro, dessa Nação maravilhosa que tem todas as cores, todas as raças, todas as etnias, todas as religiões abertas para o futuro, pois é aqui que será o celeiro do Mundo.

Jundiaí, 2006