Sempre Fui Meio Poeta
Sempre fui meio poeta
Desde a menenice, quando livros me aprisionaram e descobri um universo fascinante, longe das brincadeiras de infância e das partidas de futebol no meio da rua.
Alguns dizem que eu não deveria ter trocado essa fase por nada, mas a vida é cheia de fases não é? Sempre achei melhor viver alguns momentos soltos sem prender-me a uma fase específica.
Quando chegou a puberdade e alguns asuntos começaram a despertar o interesse de um, até então, menino tímido, as palavras continuaram a me trazer mais conforto do que os atos. Prendi-me mais ainda aos versos que internamente compunha, tão complexos que jamais consegui passar ao papel.
E quando se é meio poeta você fica meio abobalhado, meio relapso e "viajante".
Dá pra saber que se é meio poeta quando se olha as flores de um outro jeito, quando se para pra contemplar o azul do céu e entende que cada momento é exclusivo, o céu jamais voltará a ter o mesmo tom de azul que hoje tem.
É engraçado, como tantas pessoas nascem, vivem uma vida inteira e morrem sem nunca terem olhado fixamente, mesmo que por míseros segundos, ao céu que lhe resguarda.
E mesmo que o céu caísse sobre suas cabeças, ficariam se perguntando onde esteve aquele peso todo que lhe caiu sobre os ombros.
Aí é que está o encanto, ou a perdição, de ser meio poeta.
Depois de experimentar tais coisas, vive-se uma vida cheia de incógnitas, sendo a morte a unica certeza absoluta que temos sobre a vida.
Talvez seja por isso que poetas quase nunca escrevem sobre a morte.
Preferimos questionar o questionável, deixe o irrefutável continuar assim.
As dúvidas é que nos motivam, a inconstância e a incerteza são fortes combustíveis para nós, meio poetas.
O que mais me encanta em ser assim, meio poeta?
É que não tenho a ambição mesquinha de um dia tornar-me poeta por inteiro.
Vai que começo a amar demais.