24 NIETZSCHE* AO ACORDAR
Nada de sonho, sonho nenhum. Deu-se que a coisa aflorou, voluntariamente, sem explicação possível nem plausível. Foi num sábado desses, em que a gente quer dormir um pouco mais. Eu despertei com o filósofo alemão na boca: Nietzsche. E articulei, sim, veio-me de jorro o nome complicado.
Que engrenagem subconsciente teria conduzido a cabeça deste ignorantão, em paisagens do pensamento humano, em acordando, manhãzinha cedo, e a “lembrar-me” do figurão da filosofia universal, já pronto, à ponta da língua?
Recostado eu num divã freudiano, para tirar uma auto-análise, o que iria sugerir um cientista do espírito para um sujeito que, muito cedinho, acordasse com um epíteto graúdo e longínquo no carmim dos lábios?
No vilarejo da nossa mente, sem dúvida alguma, existem teatrinhos que nem Freud explica. Evidente que o cidadão austríaco, com sua doutrina da Psicanálise, revolucionou o mundo, subverteu a Psicologia Experimental. Pois fez bonito no estudo das neuroses e frustrações, à base da sexualidade, além das investidas no roçado da interpretação dos sonhos.
De volta à vaca-fria, estava me acordando e – clic!, vapt!, zás! – bateu-me ao aparelho fonador aquele feixe luminoso de fonemas estranhos ao nosso português tupiniquim: Nietzsche. Não sei nem se o jato de voz passou antes pelo córtex cerebral. Caso parapsicológico, visagem, ou seria o diacho de quê? E lá sei eu o que se me passou pela maquinaria da cuca, quando me veio vivinho da silva a lembrança do Nietzsche!
Matutar, pensar, elucubrar, tudo isto o camarada pode. Agora, falar sozinho, feito um bocó, declinar nomes exóticos, loguinho ali ao portal do amanhecer?... Afinal, psicólogos, psiquiatras, homens de fé e psicanalistas – e até poetas e filósofos – do mundo inteiro, uni-vos para me explicar o que diabo me ocorreu no sótão do cocuruto, quando, tão cedinho daquele sábado, o antropônimo engrolado do Nietzsche me visitou, sem mais nem menos, aflorando-me ao gume dos lábios.
Ah, eu queria demais saber, mas com uma explicação plausível. Dizei-me, pois, ô senhores de cuca bem fresquinha e sadia, dizei-me, tintim por tintim, por que fui ser precocemente escorraçado da minha santa soneca do alvorecer com tamanho, estranho e polêmico pensador germânico, bem ao fio dos dentes. E, ignorância minha à parte, logo na companhia do Nietzsche, de cujos fonemas engrolados – nunca, jamais – li sequer uma dúzia de linhas agregadas.
Fort., 29/09/2009.
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(*) FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900), filósofo alemão. Em 15 de outubro de 1844 nasce Friedrich Wilhelm Nietzsche, na cidade de Rocken, nas proximidades de Lutzen (Saxônia) [Fonte: Wikipédia].