Fantásticas lembranças de infância
A gente cresce, porém as lembranças vivem lado a lado conosco, às vezes, são lembranças doces, outras nem tantas, mas o que se vive na infância é difícil esquecer, pois geralmente envolve muitas peripécias, brincadeiras das mais diversas e porque não dizer, muitas vezes, até desbravadoras.
Essa história aconteceu na casa de uma senhora, que morava próximo ao cemitério, isso pode parecer um tanto tétrico, mas para os netos daquela vovó não havia nada de estranho, era sim, muita alegria e satisfação, principalmente, na época dos “Finados”.
Durante o período que antecedia à data dedicada aos mortos, aquela avó, com a ajuda das filhas e netos fazia a limpeza de algumas lápides daquele “Campo Santo”. Ela ganhava para isso, porque era contratada para o serviço. Assim, quando os responsáveis pelos jazigos por ela cuidados, chegavam ao cemitério para as devidas homenagens, os encontravam em perfeitas condições: limpos e floridos.
Porém o que tinha de fascinante em tudo isso, eram os preparativos naquele espaço, a correria entre os túmulos parecia brincadeira, parecia não, eram momentos de descontração de um bando de crianças que ficavam aguardando aquela data chegar, para na casa da avó aportar, principalmente, dormir na casa dela.
Durante a noite, algumas histórias sobre um certo fantasma ou quem sabe uma assombração eram contadas pela avó nas rodas de conversas. Até parecia que estes seres misteriosos vinham bater à porta de sua casa, mas quando ela levantava, não encontrava ninguém. Se isso aconteceu ninguém sabe ao certo, mas foi o que sempre fora ouvido desde o tempo de infância e ficou marcado para sempre.
O cemitério ficava sendo uma espécie de “playground” daquela criançada, nada os assustava, nem os incomodava, será que deveria incomodar? Pelo contrário, ali eles extravasavam toda a energia existente em suas cabecinhas, sem maldade alguma, somente o prazer de estar colaborando com a avó, num momento de tanto respeito.
A casa da vovó ficava repleta de gente no dia de Finados, pois vinham parentes e conhecidos de todos os lados, a casa ficava lotada mais parecia festa de aniversário, não deixava de ser, não é mesmo?
Mas hoje só restam as lembranças daquele tempo que não volta mais e, por que não volta mais? Porque as crianças cresceram, aquela vovó já não existe mais, nem a casa dela e, os jazigos do cemitério não são respeitados e nem existe mais aquele cuidado que um dia havia ali.
Sabe-se que os valores mudaram, mas o abandono é notório e é claro que ali não era o melhor lugar pra se brincar, mas que era bom, ah! Isso era. Aquelas crianças não tinham medo algum dos mortos, eles eram respeitados por elas, mas e agora, o que acontece naquele espaço? Nem mesmo um adulto pode chegar lá sozinho, quanto mais uma criança, por que será que as coisas mudaram tanto assim, dá uma tristeza, uma sensação de abandono ou mesmo, de página virada.
Ah! Mas as lembranças estão gravadas para sempre na memória daquela meninada e de sua mãe, que também participou daqueles momentos e nada como as lembranças para trazerem de volta imagens que jamais se perderão no tempo, ou seja, as histórias de uma infância tão marcante!
Edelweiss
(Esta crônica fez parte do concurso literário da minha cidade, Taquara, no mês de setembro, o tema era Histórias Fantásticas, lembrando o aniversário de Allan Poe, não ganhei, , mas participei. A história é verídica e retrata a minha infância e de meus irmâos)