Estava livre enfim para brincar!
Agitação que batia de porta em porta...
- Podemos ir agora?
- Vamos!
E a rua era nossa... Que delícia! Pular corda, jogar volei, frescobol, brincar de esconde-esconde, pular elástico. Até dramatizar as últimas novelas valia. As brincadeiras eram nossos maiores valores.
Que família tinha mais posses? Não lembro. Na verdade, cá pra nós, isso não me interessava. Eu valorizava as amigas como bens queridos, que me traziam alegrias, momentos de sorrisos, de descontração, de fantasias impagáveis. Quando alguma não tinha bicicleta, revezávamos, sem questionar o "horror" que hoje seria não ter uma, nem se gabar por poder ter.
Observo as crianças de hoje. Coitadas, umas pobres coitadas, obstinadas por"coisas", geralmente caras que os pais presenteiam como uma maneira de se livrar das cobranças e de "compensar" suas ausências.
Num mundo onde cada vez mais as "coisas" substituem as pessoas. Pais perdem tempo "alisando" os carros com o amor que deveriam dar aos filhos. Filhos compensando faltas, falando e ligando sem parar pelos celulares, cutucando internets numa ânsia que parecem procurar o que na verdade jamais encontrarão ali.
Vejo crianças sendo humilhadas por não possuírem os carros mais novos, nem os celulares mais modernos. Até mesmo serem deixadas de lado, pois não valem mais pelo que são, pelo que representam e sim pelo que tem. Crianças com valores atravessados, cheias de empáfia e soberania. Mini adultos mal informados, mal educados e mal amados.
Faço uma súplica para que os pais revejam os valores de seus filhos, antes que seja tarde, antes que se tornem mais frios, insensíveis e obcecados. Ensinem o real valor do dinheiro e o real valor das coisas e das pessoas. Mostrem que a felicidade não está em possuir coisas e sim nas pessoas que amamos, que admiramos, que convivemos. Ensinem o valor que tem um amigo, ensinem a serem humildes, a ajudar, a amar a natureza, os animais, a vida e não os computadores, os celulares e os carros.
Prezem o estudo e o bom profissional que poderão ser, ensinem a estudar, mas ensinem muito mais a entender os reais valores da vida, antes que seja tarde e que sejam eternos infelizes em busca de coisas para preencherem o vazio da falta que faz o amor no ser humano.