Confuso

Andar sem rumo, um ser livre, errante, sem a necessidade de dizer para onde ir, aliás, dizer sim, mas para onde eu quero ir e não para onde eu devo ir, caminhar solto sem saber se entro na próxima a esquerda ou na segunda quadra a direita, nada de querer chegar a algum lugar, sem essa de ponto final, poder muito bem mudar de ideia no meio do caminho e resolver ir para o lado contrário, vagar pela rua até encontrar o seu final, depois cansado, desistir e voltar, mas por outro caminho, apenas para me contrariar. Entrar num trem ou ônibus e sem um destino, aguardar a melhor ocasião e descer, depois vem outro, e logo sigo, para onde eu achava que queria ir, pois desço e sem saber muito bem o que fazer, retorno da onde sai, e entro em outro trem ou ônibus que tentará me levar para o seu destino, eu digo tentará, porque provavelmente, eu hei de também não conhecer o final, aonde ele acreditava querer me levar. E depois de um dia inteiro numa jornada a lugar nenhum, voltar para casa, satisfeito pelo dever cumprido. Deitar em minha cama, e sonhar com os lugares por onde passei, e logo em seguida, esquecer de tudo, até do caminho, apenas para não querer voltar ao mesmo local, acaba toda a graça, voltar ao mesmo local é dizer para onde eu devo ir, e isso é tudo o que eu menos quero.

Seria muito bom, se isso fosse possível, tentem sair de casa sem um rumo, muitos sequer sairão de casa. Confesso que não é fácil, não se aprende de um dia para o outro, mas o desafio vale à pena. Parece absurdo? Coisa de maluco? Irreal? Concordo e não tiro a razão de vocês, no entanto quem de nós nunca sonhou em sair, uma única vez, sem um rumo definido, como um “Forest Gump” na vida real. Nada de malas, passagens ou despedidas, apenas a disposição e a imaginação como sua companhia, e no máximo: “Daqui a pouco estou de volta”. Andar contra a multidão ou até mesmo a favor, dependendo muito para onde você menos deseja chegar, porque ao sair de casa, você abriu mão de estratégias e do objetivo, apenas flanar, planar, caminhar ou qualquer outro adjetivo que estabeleça o sentido de locomover.

Assim está sendo ao escrever esse texto, chegar a lugar algum, deixar o próprio leitor decidir aonde quer chegar, sem qualquer intenção subliminar ou algo parecido, longe disso, seria totalmente paradoxo. Nada de escolhas, se está lendo até aqui desde o começo, mesmo tendo pensado em desistir logo no início, em algum momento algo pode ter lhe chamado a atenção, ou pior leu o primeiro parágrafo e pulou para o último, ou só leu a primeira linha e em seguida a última, chegando a uma conclusão bizarra que só perdeu tempo lendo essa porcaria, sem nexo, que não leva ninguém a lugar nenhum, puramente e simplesmente confuso.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 29/09/2009
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1837407
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.