VIAGEM PERFEITA
Durante alguns longos minutos fiquei parada olhando para o papel à minha frente, para a parede, para o telefone, para minha pulseira com muitos corações.
Sopro meu cachinhos - eles balançam e eu os acompanho (para a frente e para enroscarem em meu rosto outra vez).
Cotovelos sobre a mesa, mãos nas maçãs do rosto, cabeça rodando, jogo-a para trás, dou uma sacodidela, barulho de estalo de pescoço, fecho meus olhos...
Pensamento a uns setenta e dois quilômetros por hora. Percorro uma estrada deserta, com curvas e montanhas cinematográficas, árvores dos dois lados, volante molhado (mãos suadas), música me toca do rádio, posso ler as notas saltitando com a letra nas montanhas depois da curva...
"...perceber meu coração bater mais forte só por você (...) quem sabe isso quer dizer amor? Estrada de fazer o sonho acontecer!"
Meu pensamento acelera ainda mais, tem pressa de me levar para algum lugar mais perto de mim.
Olhos fechados, cotovelos sobre a mesa, mãos nas maçãs do rosto, sorriso inquieto, estrada silenciosa, árvores em cochicho com o vento, montanhas ansiosas, coração acelerado, uma curva, duas, três... Estrada, estrada, estrada...
Algum lugar me espera, ou eu me espero chegar...
Aceno de mão, de olhos, de sorriso, bocas, é você! Ou sou eu?
Somos nós, acelerados... é a outra parte de mim que me esperava chegar.
Olhos abertos, recupero minha respiração, me localizo espaço-temporalmente. Até a sala que estou parece vazia, talvez eu já esteja mesmo aí, a seu lado, não percebi quando me entreguei nem quando você me encontrou.