A FLOR DO CHARCO

A FLOR DO CHARCO

Apesar do frio, a manhã de sábado estava convidativa para um passeio na cidade, na revistaria para ficar folheando as revistas e conhecer as novidades das últimas edições das “Vejas, Isto É’s, Superinteressantes, Cult’s, Vip’s, etc “, um livro em lançamento ou não, que desperta o gosto da leitura...enfim, uma linda manhã!

Mas resolvi dar uma ajeitada em meu quintal, onde o mato já começava a tomar conta. Comecei pela frente, onde passa um córrego. Na beirada da longa vala o capim gordura já quase cobrindo algumas Mariquinhas ou Marias-sem-vergonhas e mais próximo do meu portão; Quebra-quebra e Picão (ervas daninhas, mas também remédios para alguns males) e Tiririca (eu disse tiririca) teimavam em invadir um pequeno canteiro de Flor Capitão, Afelandra e Comigo-ninguém-pode...

Bem! Lá pelas tantas, pelo menos “umas” duas horas haviam passadas e percebi em meio a outras plantas aquáticas que forravam parte da superfície da “água”que corria no córrego, uma flor azulada toda viçosa apesar do meio em que estava: fundo em lodo com uma camada de uns trinta centímetros de água provenientes das chuvas, chuveiros, lavatórios e lavanderias. E olhando para esse quadro; A frágil florzinha, o córrego como um pântano esquecido, fiquei refletindo a sabedoria da natureza, apesar do quadro um tanto desolador, a luta daquela pequena flor em retirar do lamaçal barrento, no qual estava enraizada, seus nutrientes e se transformar naquele pequeno ser de singela beleza em sua forma e cor; mesmo da certeza de que pouco provavelmente seria notada, ali cresceu e se despontou. Ao redor, outras relvas florescentes, e Paineiras, Primaveras e Jequitibás servindo de poleiros aos pássaros em festa, misturando seus cantos com os do sopro do vento...

Fitando a água poluída que seguia seu curso em busca do abraço do Rio Paraíba, indagava a mim mesmo, se atrás daquela pequena beleza da flor azulada, em meio à gleba desolada, não havia alguma dor e agonia por não estar habitando um jardim, em meio a outras flores a lhe fazer companhia... Em meio àquela viagem em pensamento, como a uma resposta à minha indagação, surge voando lentamente, com um bater de asas desengonçada, num sobe e desce em “câmara lenta”, uma borboleta, destas de asas amarelas e listras pretas, pousa na pequena flor por um instante e sai sorrateira no mesmo movimento em que chegou, seguindo seu rumo.

Então entendi que a florzinha azul, provavelmente não sentia tão só ou triste como imaginei, habitando aquele charco, porque tinha a visita e a atenção de outros seres da natureza, como aquele que presenciei da chegada da borboleta e quem sabe em outra hora, um colibri ou uma abelha, também ali marcarão sua presença deixando àquela pequena flor um pouco de esperança...!

Ainda em minhas reflexões, imaginei outros irmãos, também filhos da natureza, mas com a diferença de ter um cérebro e um coração e a vantagem do livre-arbítrio, mas mesmo assim, entregue à ignorância e à dor, à treva e ao crime, quem sabe até, por falta de atenção...!

Assim, só me restou estender meu pensamento aos Céus e agradecer àquele quadro inspirador, que numa simples observação, me deu lições de que, o que às vezes aparenta sofrimento e dor, na verdade mostra-nos que se pode cultivar o amor, mesmo num pequeno gesto de atenção...

Doni Leite

22/05/2004