SOFÁ VELHO

SOFÁ VELHO

O sinal ( semáforo ) fechado, tive que parar; Aguardando o sinal verde, olhava, ora para a frente, ora para os lados. E da janela do carro onde eu estava, vi uma dessas caçambas de entulhos na calçada de uma casa.

Pude observar que havia um sofá velho jogado dentro da enorme caixa metálica. Ali, naqueles momentos, segundos, que antecediam o sinal verde, imaginei; Se aquele sofá não fosse um objeto inanimado, estaria ele lamentando a situação que chegou, depois de muito servir.

Estaria pensando (ou lembrando) os momentos que nele se sentavam seus donos para conversas amistosas dos familiares, ou para assistirem na televisão, as novelas, os telejornais ou o futebol. Lembraria talvez, o dia da disputa da Copa do Mundo, em que todos os familiares e vizinhos se reuniam para a esperada partida final, e, amistosamente o disputavam para ver quem sentaria na melhor posição, para um melhor ângulo do jogo.

Lembraria a emoção de se sentir útil e importante tanto quanto o jogo que estava prestes a começar. Ou então, imaginava o dia que ele chegou para àquele lar, quando o dono da casa foi compra-lo na loja de móveis. Enquanto os adultos o olhava admirando-o, comentando suas qualidades, experimentando-o; as crianças faziam a festa, pulando e dando cambalhotas sobre ele, com a advertência dos adultos, que assim ele se estragaria. Ou então, se lembraria dos momentos íntimos a que serviu de palco para o casal, donos, se enamorarem. Ou então, ainda, quando servia de repouso para as leituras de seu dono.

Assim, minha imaginação corria solto, em questão de minutos, olhando para aquele sofá, enquanto o sinal não abria...

Mas, coitado, talvez seja melhor para ele ser um objeto inanimado, para não ter que sentir-se inútil e desprezado depois de

( quem sabe ) muitos anos aproveitados, como muitos seres animados (humanos) que vemos nas praças e nos bancos de jardins...

Alguns ainda lúcidos, contando casos, relembrando a ventura de um passado de glórias, de sorte. Outros, nem tanto; esclerosados, trêmulos, fisionomia débil, a espera da morte...

...O sinal abriu!..., tenho que ir...

Doni Leite 23/08/1997