a beleza da infância

Hoje vou escrever sobre dois fatos que aconteceram isoladamente, porém com uma coisa em comum: foram com crianças. Mas não fiquem previamente horrorizados, as cenas que presenciei foram singelas como as pequenas coisas boas da vida, que quase sempre nos passam despercebidas.

***

Sabe quando a gente está naquele dia mais ou menos, morno, nem feliz nem triste? Naquele dia eu estava assim. Não ouvi nenhuma música inspiradora, nem havia lido um texto que tivesse me tocado. Até então, nada que merecesse qualquer registro.

Eu saio do trabalho às 18:30h. e geralmente pego o mesmo ônibus, mesmo cobrador e motorista, as mesmas três quadras até chegar em casa. Era um dia bem quente e numa das esquinas há uma casa com muro baixo que sempre tem umas três ou quatro crianças brincando. Eu adoro quando está calor só pelo fato de poder vê-las!

Dos meninos, o mais novinho ainda está deixando as fraldas, eu acho. Sempre reparo em sua felicidade estampada no suor de seu corpinho. E então, nesse dia "mais ou menos" – como um alerta de Deus, dizendo que a vida é curta e devemos sorrir – aquele menino, sem esperar nada em troca, me dá um presente salvando o dia, dizendo um colorido "oi tia!"

Não era só eu, o menino também me via todos os dias.

***

Esses dias, que agora são de frio, me proporcionaram outro presente. Porém o estresse do dia-a-dia me fez esquecer e eu fiquei ligeiramente triste. Passando pela rua do menino que salvou o dia, eu lembrei novamente.

Não estava tão frio assim, mas todos sabem que os pais têm mania de exagerar na quantidade de roupa dos filhos, parecendo seguir o ditado "melhor sobrar do que faltar". Pois bem, estava eu fumando o meu cigarro pós-almoço na porta da livraria quando vi uma cena no mínimo original. Vocês concordarão comigo.

Uma família parada na calçada esperando alguma coisa. Eles deviam estar já a algum tempo, porque a filha – que devia ter uns 8, 9 anos – já estava impaciente. Tirava o casaco, colocava, tirava novamente, transforamava-o em cachecol... até que teve uma idéia brilhante. Segurou as pontas das mangas e esticou os braços fazendo com o corpo uma cruz. Quando ela percebeu isso, sem pestanejar começou a "pular corda" com o casaco.

Que menina original, fez uma coisa que vai estudar daqui a uns anos na escola: ela reinventou seu casaco da mesma forma que Pablo Picasso reinventou a bicicleta, criando aquele touro de alumínio. A menina simplesmente tirou a função do casaco, que é esquentar, vestir, e deu a função de passatempo, brinquedo. Que futuro promissor.

***

Quanto a mim, aqui do alto de meus 23 anos sem tanta criatividade assim, apenas tiro o meu chapéu, cumprimentando a beleza da infância com a minha crônica tão singela quanto essas crianças, que mereceram ser imortalizadas por terem, cada uma de seu jeito, mudado a forma de ver o mundo dessa saudosa "gente grande".

texto escrito em 16/05/2007

Deborah O Lins de Barros
Enviado por Deborah O Lins de Barros em 28/09/2009
Código do texto: T1836152
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.