O OBÁ DE XANGÔ

Sou um admirador da obra de Jorge Amado. Desde a adolescência leio e releio seus livros, que continuam encantando as pessoas, mundo afora.

Como vivi em Salvador alguns anos e ficava horas à beira-mar, no rio vermelho, olhando os pescadores em seu ir e vir ao mar, tenho predileção pelos romances “Mar morto” e “Os pastores da noite”.

“Gabriela”, “Tieta” e “Dona Flor” são suas obras-primas, com lugar garantido em nossa literatura, não carecendo, pois, de mais comentários: o povo já as consagrou.

Nesses livros e nos demais, os personagens criados por Jorge Amado são ligados ao Candomblé, uma das religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil.

E isso não ocorre por acaso. A Bahia, apesar de seu fervor católico, é um estado que respira o Candomblé, herdado dos negros africanos trazidos como escravos nos navios negreiros.

O que vemos, pois, nas histórias de Jorge Amado é o que há na Bahia, principalmente em salvador, onde se concentra a maior parte dos adeptos de tal religião. Por suas ruas, becos, ladeiras e bairros proliferam-se os Terreiros.

Jorge Amado, a exemplo de seus personagens, foi um dos maiores simpatizantes do candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Basta ler “Navegação de Cabotagem”, seu livro de memórias, para se constatar isso. Seus principais amigos no candomblé foram as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca.

Aos leigos, que frequentemente confundem o Candomblé com a Umbanda e a Macumba, sugiro a leitura de Jorge Amado, meu conterrãneo, iluminado contador de histórias, estrela entre as estrelas dos Orixás.