A estrada e o pássaro verde

Há muito andava naquela estrada e já não aguentava mais cair. Era um caminho cheio de armadilhas, traições e mentiras. Não havia sombra. Aliás, não havia nada naquela estrada a não ser, um pássaro tão verde que até lhe cegava. Sentia muita sede, nem sabia ao certo de que, se de água, se de viver, mas sabia que morreria por qualquer um dos motivos. Por vezes se sentia sozinha, e buscava por um amigo que não via há muito tempo:“lembra daquela bússola? Era pra você nunca perder a direção e agora eu que estou perdida”. Ela ria sem graça e dizia em voz alta: “onde você está Carlos? Não é possível que eu tenha te matado também.” Mas ninguém respondia. A sede já lhe causava delírios quando ouviu barulho de água, só que ela já não acreditava em nada. Deu mais alguns passos e pode ver a fonte. Ajoelhou-se diante daquele lago que não era dela, mas que desejava intensamente e bebeu da água como se não houvesse nada melhor na vida. Quanto mais bebia, mas tinha sede. Em nenhum momento sentiu-se culpada por desejar o lago, pois muito do que era dela também havia sido brutalmente tomado. Olhou novamente para a estrada e pela primeira vez em muito tempo quis continuar. O pássaro verde ainda estava ali. Não sabia onde chegar, mas enquanto tivesse sede, buscaria água! Se o final fosse um abismo, teria ainda duas opções: cair ou aprender a voar. Preferiu pensar nisso quando já estivesse lá.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 28/09/2009
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