Debate Brasil

Em outubro de 1998, encaminhei uma carta ao Jornal do Engenheiro, no Rio de janeiro, a respeito do "Debate Brasil", matéria publicada por Sérgio de Almeida naquele periódico. Lendo o texto hoje, começo a rir. Não sei se estou ficando louco ou se já estava quando a redigi. Por isso decidi transcrevê-la aqui. Talvez Tio Ângelo ou Pequener, minha adorável jovenzinha de quinze anos, possam me ajudar quanto à definição do meu estado psíquico atual.

Sr. Editor,

"Parabéns a Sérgio Almeida pelo “Debate, Brasil” (Jornal do Engenheiro, outubro/98). Não há o que se retocar no parágrafo final, onde se defende o debate das alternativas ao quadro institucional do país “nas escolas, universidades, empresas, associações de moradores, ...”

Contudo, o que se percebe na parte restante da matéria são as costumeiras reclamações da oposição, em que pese a fundamentação elogiável do articulista. Gostaria de saber o que pensa Sérgio Almeida sobre as recentes declarações de Fidel Castro a favor de FHC. Será que foi apenas para dar um tapinha em nossas costas, como fazem as autoridades estrangeiras ou os artistas de fora quando chegam aqui?

A questão maior, para mim, é a política. Existe uma célula Brasil em cada uma de nossas famílias. Se o cabeça-do-casal, qualquer um deles, implantar a orientação mais acertada, os resultados serão os melhores possíveis, embora nem tudo possa se resumir em causa e efeito.

Para que se possa alterar o quadro adverso a que está submetida a sociedade brasileira, considero necessária a realização de uma ampla reforma política, capaz de contribuir para a formação (moral) das pessoas que se candidatam a cargos eletivos. É claro, sem prejuízo do que contêm o “Debate, Brasil” e outras matérias, livros, planejamentos e programas, com suas fundamentações econômicas e técnico-administrativas, provenientes de setores da esquerda, da direita ou de qualquer cidadão que deseje o melhor para o seu país.

A “Galinha dos Ovos de Ouro” -se não me engano, como ficou conhecida a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro- dá a noção do que pode alcançar, em termos de realização pessoal, a pessoa que reúne condições para se candidatar a qualquer cargo político. O Presidente é somente o clímax. As vantagens oferecidas são tantas que me parece normal que se pense primeiro nelas, para depois, muito depois, considerarmos a possibilidade de entender o que estamos fazendo ali, isto é, de que estamos ali para defender não os nossos interesses, mas os das pessoas, da comunidade, do povo que nos elegeu.

Tudo o que você tem a fazer para a garantia de uma realização pessoal durante quatro (vereadores e deputados) ou nove anos (senadores), se não me engano nessa quantificação, é candidatar-se. Isso porque as pessoas têm que votar em você, já que têm de votar em alguém. Se o voto não fosse obrigatório, a sua possibilidade de se eleger seria menor. Se você pretende apenas a realização pessoal, esse caminho não seria tão fácil.

Se você incorreu em algum ilícito e precisa proteger-se, a carreira política está aí para lhe oferecer a imunidade parlamentar.

E se você se aborreceu no seu partido, ingresse em outro porque o seu cargo ninguém lhe tira, enquanto perdurar a vigência do seu mandato.

E ficaríamos aqui enumerando uma infinidade de situações vantajosas, muitas até ilegais, só ao alcance daqueles que se dedicam e conseguem um cargo eletivo.

Essas vantagens absurdas precisam ser suprimidas. Os políticos, exceções à parte, só poderão pensar mais na coletividade se suas condições pessoais forem muito próximas das do cidadão comum. Se cada político for um reizinho, na comunidade que representa só haverá súditos.

Os políticos estão para o país assim como o cabeça-do-casal está para a família, na medida em que deles emanam as decisões que vão nortear, influir, delinear, em última instância, o quadro institucional a que a sociedade estará submetida.

É um pouco como diziam nossas mães: “quando a cabeça não pensa, o corpo é que paga.” Os melhores planos, programas, planejamentos para o país dependerão das pessoas com poderes de decisão para implementá-los. É imperioso, portanto, que se invista na formação moral dessas pessoas, sob pena de a teoria ser totalmente outra na prática".

Atenciosamente,

Aluizio Moraes de Rezende

Engenheiro Civil

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 28/09/2009
Código do texto: T1835730
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