"MARIA DA PENHA" NELES, MULHERES!
“Todas as famílias felizes são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira”. Esse primeiro parágrafo do romance ANA KARENINA do egrégio Leon Tolstói, apesar de ter sido escrito há muitos anos, continua sintetizando a sociedade hodierna. Feliz ou infelizmente. As dissensões familiares ocorrem, diariamente, nos mais diversos ambientes. Os casos de violência envolvendo mulheres e crianças são estampadas, divulgadas através dos meios de comunicação, não importa a classe social. Por outro lado, outros casos anônimos se proliferam sem que o público tome conhecimento em vários lares de todas as regiões do Brasil e do Mundo.
Sabemos da existência de leis que “protegem” essas categorias, pelo menos na teoria, pois na prática, são outros quinhentos. Só que, infelizmente, há de se ressalvar que, o motivo de tanta ineficiência, amiúde, ocorre por omissão das vítimas, as quais com medo ou mesmo sem provas concretas, mesmo submetidas aos mais hediondos maus-tratos, deixam o tempo passar e ficam à mercê da violência dos cônjuges desumanos. E como certos abusos acontecem só entre quatro paredes, isto é, sem uma só testemunha, algumas das vítimas, mesmo que ainda pensam em denunciá-los, através da Lei Maria da Penha, ficam impossibilitadas por esse fato imprescindível: alguém que confirme a sua acusação.
Aqui num bairro da zona leste de São Paulo, há dois casos similares de humilhação, agressão e ameaça a duas jovens esposas por parte de seus respectivos e brutais companheiros. E relembrando as palavras do escritor russo, cada uma delas é infeliz a sua maneira. No primeiro caso, mesmo trabalhando como autônoma, a jovem e sofrida esposa cuida do seu apartamento com desvelo, só que nada que ela faça é reconhecido pelo seu companheiro, o qual só a xinga de vagabunda, injustamente, diga-se de passagem. E o seu sofrimento só não é maior por que o casal não tem filhos. Carinho, relação sexual, tudo isso já ficou no terceiro ou último plano. O cúmulo da ignorância chega ao sadismo vulgar e banal.
Quanto a segunda vítima, o problema não chega a ser assim tão grave, pois o seu dilema se restringe ao ciúme doentio do seu marido, que é caminhoneiro e, consequentemente viaja bastante. E como a esposa, que é nova e bonita recusa acompanhá-lo, preferindo ficar em casa, cuidando dos filhos, aquele homem fica se mordendo de ciúme e passa a ameaçá-la com os mais torpes e ridículos argumentos, chegando inclusive a jurá-la de morte, caso algum dia desconfiar de algum ato de infidelidade. A mentalidade do ditto cujo é tão arcaica que, segundo o mesmo a sua vontade é deixá-la amarrada, acorrentada enquanto ele estiver viajando. Tudo isso só para ter certeza de que ela não saiu por aí, batendo pernas. Coitado! Quanta ignorância! Como se ela o quisesse trair fosse necessário sair do seu apartamento…traí-lo-ia até na cama dele (mesmo acorrentada) com o amante que ela, por ventura, viesse ter um caso durante a sua ausência!
João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net