Festa de São Benedito 2009

Nego Sem-nome

Por libertar os escravos dez anos antes da Lei Áurea, o Ceará pegou fama de racista. Segundo as más línguas escravagistas, a elite branca cearense temia a ‘contaminação’ e, por isso, mandava os negros de volta à África. Tirando os exageros, somando aqui, diminuindo ali, o povo cearense apenas não via na cor da pele motivo suficiente para manter seres humanos agrilhoados, preferindo analisar seus semelhantes pela honra e caráter. Se não houvesse sido destruída, hoje seria a Festa de São Benedito, em Tietê, São Paulo, Brasil. Como não há nada a mostrar neste derradeiro de setembro, conto-lhes o abaixo em três partes e uma pequena conclusão.

(Primeira parte) Tanto é verdade que um dos heróis populares do Ceará Grande (Colonial) era um negro chamado Nego Sem-nome. Conta-se que Nego Sem-nome promoveu uma rebelião e matou toda a tripulação branca do navio negreiro. Por inabilidade à navegação, encalhou no litoral, foi preso e condenado à forca.

(Segunda parte) A praça cheia de gente assistia os negros enternecerem diante do fim. Enforcados um, dois, dezenas de negros, e, finalmente, chegava a vez de Nego Sem-nome. Encarou e dispensou o carrasco, não permitindo que o branco azedo lhe encostasse a mão. Teso e imponente galgou os degraus do patíbulo, atou o laço de corda ao próprio pescoço e com ímpeto de fera ferida lançou-se para o mesmo destino dos seus companheiros: a morte. A corda não suportou o peso do escravo e se rompeu! Nego Sem-nome caiu na areia ileso, sem nem um arranhão.

(Terceira parte) Nego Sem-nome então olhava dentro dos olhos da multidão enquanto o conserto da forca era providenciado. O povo, comovido com a atitude nobre do guerreiro negro, pedia que o governador lhe desse o perdão. Consertada a forca, perdão negado, Nego Sem-nome repetiu o mesmo ritual: sem titubear, atirou-se à morte honrosa!

Os cearenses, então, decidiram libertar todos os escravos. O escritor francês Victor Hugo, pai do iluminismo, então, chamou-nos de Terra da Luz. Agradecemos, mas, preferimos ser chamados de filhos de Iracema e dom Martim. Quão maravilhoso é assumir a raça em vez de negá-la!

(Conclusão) A emblemática de uma embala está além da metafísica. Uma vez criada, a senzala se faz eterna por si só. Resta á raça negra, cujo sangue a mim emprestado é irrisório, uma mensagem bíblica, Jó 2:9: “Ainda continuas na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de uma vez!” Mas é tão maravilhoso ser brasileiro! Melhor do que isto, só sendo brasileirão. Somos tão fantásticos que poderíamos dominar o mundo. Só não o fazemos porque achamos que o mundo não precisa de um dominador.