Agonia do Patrimônio Histórico de Jundiaí
Às vésperas de completar 352 anos de elevação à categoria de Vila,n em 14/12/1665, a ex- Vila Formosa de Nossa Senhora do Desterro de Jundiahy, vê a cada dia, a descaracterização de sua vida passada, e pior, a demolição do seu patrimônio arquitetônico, e de prédios que descrevem a sua história. Passando a ser contada somente por e desenhos , pinturas ou fotografias ,que alguns mais conservadores, tentam registrar.
A história da cidade é contada através de documentos escritos, iconografia, monumentos e a arquitetura de uma época.
No entanto, como competir com a famosa especulação imobiliária? Existem órgãos oficiais como o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, vinculado ao MEC, Ministério de Educação e Cultura, que tem por fim a proteção de alguns patrimônios fungíveis e infungíveis da Nação, que legalmente faz o ‘tombamento’, ou seja, registra num livro,protegendo-o de alguma depredação futura. O termo ‘tombo’, vem de uma torre do ‘Tombo’ de Portugal com esse nome, e acaba confundindo com ‘ derrubar’. O tombamento não significa desapropriação, mas uma restrição no uso do imóvel, para não perder suas características de época ou históricas.
No Estado de São Paulo esse serviço é feito pelo CONDEPHAAT, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo, vinculado à Secretaria do Estado de Cultura, que tem a função de proteger legalmente patrimônios históricos, arquitetônicos, arqueológicos e artísticos do Estado de São Paulo. Tem outros órgãos, em cada Estado, e outros nos municípios, numa tentativa de controle e conservação do patrimônio histórico municipal. No entanto, todos tem uma burocracia imensa para seguirem e muitas vezes, voluntários como conselheiros, o que acaba ficando inerte e enquanto isso, o patrimônio é aos poucos delapidado.
Em Jundiaí, há anos existem cidadãos preocupados com a preservação de nossa história, e tentam oficializar um Conselho Municipal de Patrimônio Cultural. Em agosto passado, após a apresentação de projeto de lei da Câmara Municipal de Jundiaí, finalmente foi feito um decreto legalizando o Conselho. Agora, está esperando ser oficialmente constituído.
No entanto, enquanto isso, a especulação imobiliária aproveita e deixa sua marca diariamente. Assim, a olhos vistos, estamos vendo nosso patrimônio sendo desmoronado. Acontece que, depois dessa irresponsabilidade, não há mais o que se fazer.
Assim, estamos vendo a agonia constantemente, como a demolição do prédio à Rua Barão do Rio Branco, 42, uma construção de 1912 que já foi pensão que recebia os imigrantes italianos, que vinham do porto de Santos a Jundiaí, que seguiam, na sua maioria para os bairros da Colônia ( Núcleo Barão de Jundiaí) , Bairro do Traviu ou Bairro de Santa Clara, entre outros. Na época era conhecido como a Praça da Estação Ferroviária, então São Paulo Railway.
Depois, o prédio abrigou uma escola, o GEVA, Grupo Escolar Vila Arens, até a década de 60. Recentemente foi o Hotel Canárias. Conseguiu não ser desapropriado para fazer o Terminal Vila Arens. No entanto, a especulação imobiliária falou mais alto, e foi adquirido pela família Haddad, que pretende fazer um shopping no local.
O imóvel, que poderia ser um prédio municipal, abrigando tantas entidades culturais que estão a ponto de ficarem sem local de funcionamento, pois precisam deixar a FEPASA , está agonizando. E o nosso patrimônio vai sendo substituído por outros imóveis, e o passado vai ficando somente na lembrança. Uma cidade sem memória é uma cidade sem raízes, sem o orgulho do seu passado, sem sua própria personalidade.
Afinal, Jundiahy não tem nem seu aniversário oficialmente festejado, o que dizer do seu patrimônio? Resta apenas um grito fraco de socorro e a agonia do seu patrimônio.
Regina Dragiça Kalman ( professora de História, Jundiaí/SP-Brasil, 28/11/07)