MEUS AMIGUINHOS PELUDOS

A convivência com animais domésticos vem desde a infância, eu devia ter uns quatro a cinco anos, quando preferia brincar com uma lebre, uma do viveiro de minha mãe que acabou sendo mimada por mim e que atendia aos comando de ir para a frente, para trás e fazer movimentos circulares. Infelizmente, acabou na panela e eu chorando pela perda da amiga. Depois apareceu uma gatinha e a filha dela. Como filha única, preferia brincar com animais vivos do que com bonecas.

De lá para cá, tive inúmeros gatos e alguns cachorros, que faziam parte da família, pois meus pais também gostavam dessa convivência. Cada um teve sua marca personalíssima e deixou saudades, quando se foram, poucas vezes de velhice, mais pela mãos de algozes humanos, que os sacrificavam de diversas maneiras, na maioria, pelo envenenamento.

Minha atual ‘família’ é constituída de duas cachorras , três gatas e um gatão. A Laleska, a mais velha é uma cachorra de porte médio e raça não definida é a única nascida em aqui casa no ano de 1994.. Acolhi sua mãe, uma cachorra sem casa, que estava prenha e muito assustada, acabou tendo nove filhos, que morreram. Depois vieram mais cinco, dois quais dois foram adotados e dois envenenados. Um deles, o Boby, um peralta, alegre e bagunceiro. Boby tinha porte pequeno, duas cores: preto e branco. Era conhecido pela vizinhança pois pulava o muro e andava pelo bairro. Era muito alegre e brincalhão. Acabou com vários calçados e roupas no varal. E não adiantava nada ficar brava, que me olhava de um jeito, seu jeitão, e pronto, eu perdoava tudo.

Não demorou um ano, e a Xuxa, a cadelinha menor da ninhada, foi envenenada junto com o Bob. Foi uma correria para levar à clínica veterinária, mas só deu para salvar o Bob. Ele era muito conhecido na rua, mas nem todos o apreciavam. Um ano depois de salvá-lo da primeira vez ,quando um dia voltei para casa à noite, depois do meu trabalho noturno como professora, o encontrei esticado e morto na calçada. Ele ainda tinha apenas dois anos. Ainda restaram duas da ninhada, uma foi adotada e restou a Laleska. Por duas vezes a Laleska teve cinco filhotes, e em ambas todos nasceram mortos. Só restou, então, a opção de castrá-la. Laleska é a única que realmente toma conta da casa. Ela é tímida e não gosta de ser fotografada, fica toda encolhida, e acabo não conseguindo mostrar a minha menina.

Enquanto isso, passaram por aqui vários gatos e gatas, todos com seu jeito e personalidade própria, e todos sumiram ou morreram perseguidos por gente que não gosta de ‘gatos’.

A outra cachorra, veio para cá há uns seis anos, de forma inusitada: ela vivia na rua e uma amiga que mora no Residencial Anchieta, me pediu para castrá-la, pois ficou com pena da Xuxa (este nome lhe deram os moradores do local), estava no cio e latia muito por causa da perseguição que lhe faziam os outros cachorros, também de ‘rua’. Resolvi intervir, e para me proteger levei no carro um balde com água, e a vontade de levá-la para o projeto ‘Bicho Feliz’, da prefeitura que auxiliava o castramento. Chegando à praça do residencial vi uma cachorra de cor marron, de porte médio sendo acuada por outro peludo macho. Foi preciso usar o balde de água para afastá-lo e não levar uma mordida do cão apaixonado. Consegui logo uma vaga para o castramento, pois não sabia se a cadela já estava prenha. Ficou uma semana em casa para se recuperar e conquistou a família dos gatos e gatas ( acho que eram três) e acabou ficando sendo adotada.

A Xuxa era um animal de porte médio, sem raça definitiva, de cor marron, e com uma perna manca, resultado de algum acidente automobilístico. Assim, arrumei uma companheira para ir fazer compras na padaria e no mercado. No açougue sempre me perguntavam da “Xuxa gorda”, pois era muito redondinha. Agora já emagreceu um pouco depois de seu dieta passar a ser quase exclusivamente ração.

A Laleska demonstrou muito ciúmes da Xuxa enquanto que os gatos não.Uma ocasião a Laleska ficou doente com picada de carrapato e ficou sem andar com duas pernas traseiras e graças ao tratamento e remédios fortes e minha dedicação a fizeram sarar. Depois disso, deixou de ter tanto ciúmes,pois se achou também o centro de atenção. Mas ainda continua comer nos pratos dos gatos e da Xuxa, mesmo que a comida seja a mesma.

Os gatos se afeiçoaram muito à Xuxa, e várias vezes se “esfregavam” nela e até dormiam ao seu lado. Assim foi com o Jujú, um gatão cinza um misto entre angorá e gato-do-mato, cego de um olho, resultado de uma briga gato preto, o Fofinho, também meu.Para demonstrar carinho ele a abraçava e lambia, corria atrás e se deitava junto. O Jujú foi envenenado, e como os outros gatos não faziam muita ‘festa’ p’ra Xuxa e ela acabou muito triste.

Tempos depois, em 2001, quando saí para fotografar uma modelo para uma concurso de amamentação, acabei me apaixonando por uma gatinha com três cores, muito parecida com uma outra , a Fofinha, muito querida, que também perdi anos antes, ao ser envenenada,(ao mesmo período que perdi o cachorro Boby). Acabei adotando a Lilica, que veio e me deixou de cabelo ‘em pé’, pois colocava a casa literalmente de ‘ponta cabeça’ de tanta bagunça que fazia na sala.

A Lilica fez uma grande amizade com a cachorra Xuxa . Quando a gatinha já estava crescida que consegui adquirir uma máquina digital (um sonho burguês) e, para aprender como usar acabei usando como modelos os meus bichos em diversos momentos, principalmente da gata Lilica e da cachorra Xuxa. As imagens da Lilica e da Xuxa estão vários sites na internet. A Lilica era danada. Depois que cresceu encheu a casa de filhos.

Mas, por ironia, todos sumiram ou eram enveneados. Até que, em 2005, ela também sumiu e seus dois últimos filhos também, era o Niky uma gatinho muito meigo, a princesa Nikita.

Não fiquei muito tempo sem gatos, pois em fevereiro de 2006 apareceu a Kika, uma siamesa que não tinha ainda um mês. Precisei dar-lhe leite através de conta-gotas. Depois apareceu um gato amarelo miando na árvore do outro lado da rua. Foi adotado com o nome de Juca. Na páscoa, estava em casa um casal de uns dois meses, banco e pretos, uma mistura de siamês e angorá. Estavam tão cheios de pulgas que foi difícil dar um banho direito. Consegui doar o machinho e ficou a Belinha. Três meses depois, apareceu outro gato igual. Provavelmente outra ninhada da mesma gata. Era o Pipoca, pois tinha medo de tudo e assim cresceu sempre assustado.

A Kika , uma siamesa de olhos azuis, um miado baixinho me adotou como verdadeira mãe que não conheceu.Tinha ciúmes da Belinha e gostava do Juca.

A amizade entre o gato Juca e a cachorra Xuxa era cada vez mais evidente, sempre registrado pela minha máquina digital. Ambos estão também colorindo a internet.

Chegou a época em que a Kika começou a namorar com o Juca e como ficou miúda e não restou outra alternativa do que castrá-la, assim como o Juca, o que ocorreu em fevereiro de 2007.

Mesmo tentando diminuir a população felina, não consigo, pois em fevereiro apareceu o último membro da ‘família’, uma gata siamesa, de uns dois meses, muito assustada. Depois tentou de todo jeito me conquistar, fazendo o que sabia: ser carinhosa. Aparentemente deve ter sido deixada pela mesma pessoa, pois a Kika e a Ritinha são provavelmente irmãs, filhas da mesma gata. A Kika , acabou adotando-a e agora a Rita já está maior do que ela.

Assim, vivemos nos fazendo companhia, os meus meninos me fazem companhia e eu os trato como filhos adotados. Às vezes umas broncas e outras vezes carinho, com au,au e miau à vontade.

Quando me refiro amiguinhos, não consigo vê-los como simplesmente ‘bichos’, pois nós nos comunicamos com som, gestos, rabos levantados. Entenda-se aqui: cachorro quando está contente mexe o rabo, o gato, pode estar contente , quando o tem reto para cima, ou se mexer, significa estar desconte. O olhar também diz muito, e a gente aprende essa linguagem , que também se diferencia não somente pela espécie, mas de forma personalíssima. Cada um é um ser único e dever ser respeitado, como também o seu espaço físico. O animal dá amizade querendo somente em troca um pouco de carinho.

A convivência com meus amiguinhos me faz ser mais humana do que seria sem sua companhia relaxante e tão emocionalmente rica.

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Publicado no livro:

“Animais e importantes 2" - org. HEIMANN, Júlia Fernandes & MARTELLI, Márcio - Jundiaí, Ed. In House, 2007.