PELA VIDA , COM O OLHAR DE POETA...
Um dos movimentos que mais me fascina na vida é a possibilidade dos instantes.
É claro que nem todos são lembrados com saudade, emoção ou admiração, porém , por ser a nossa vida um mix de todos eles, torna-se ela mais bela e intrigante.
E foi assim que nesse final de semana, quase que por acaso, a vida me levou até um prazeroso contato pessoal com o pianista e maestro JOÃO CARLOS MARTINS.
Claro que ele sequer sabe de mim posto que estava eu confundida com a paisagem dum auditório e depois de sua apresentação narrativa sobre sua vida bem como duma MAGNÍFICA amostragem musical da sua arte, achei conveniente poupá-lo de mais uma daquelas cansativas sessões de fotos e autógrafos que se colocam frente aos ídolos por parte de seus fãs.
Mas eu não poderia deixar de aqui tecer algumas palavras sobre a grande emoção que aquele homem e artista me causou há poucas horas atrás.
A sua mensagem de vida nos faz pensar muito, posto que vai além da superação dos obstáculos das adversidades dos nossos caminhos, e se solidifica com o grande exemplo de como a paixão pelo que se faz nos abre tantas das mais incríveis possibilidades.
O maestro João Carlos Martins começou a estudar piano e ainda quando criança , aos oito anos, já se destacava na interpretação de partituras clássicas para o instrumento, principalmente na obra de Bach.
Não tardou a se tornar um dos maiores expoentes na execução do referido compositor da música erudita internacional e a levar o nome do Brasil por todas as partes do mundo.
Porém quando ainda jovem, no auge da carreira, ocasião que se apresentava noutro país, sofreu um assalto na rua, e uma agressão no cotovelo o levou à perda dos movimentos da mão direita por grave lesão do nervo ulnar, já acometido por um antigo trauma no esporte.
Ali começou a sua saga.
Sofreu várias delicadas intervenções cirúrgicas na mão realizadas por especialistas nos Estados Unidos, uma neurocirurgia encefálica para o controle da dor na mão, até que a sentença final dos médicos lhe tirava para sempre a possibilidade de tocar piano.
Dias difíceis lhe vieram.
Acabou desviando-se momentaneamente da arte musical para ser treinador de box de Eder Jofre, valndo-lhes um título de vencedores.
Porém jamais desistiu de seu amor pela musica e de sua paixão pelo piano.
Passou a treinar horas do instrumento com a parca possibilidade que tinha nos dedos da própria mão sequelada e da contralateral, bem como até de seus cotovelos.
Porém o esforço não ergonômico para tocar com a mão sadia lhe levou a desenvolver uma "lesão de esforço repetitivo" e mais tarde a doença de Dupuytren, uma afecção reumatológica que culmina com a mão em garra.
Estaria pois encerrada definitivamente a sua carreira musical.
Mas ele não se renderia ali, porque a persistência e o amor sempre nos levam às soluções inimagináveis.
Certa vez teve um sonho com o maestro Eleazar de Carvalho, que lhe mandou a mensagem para se dedicar à regência.
E foi assim que enveredou por outro seguimento da arte musical e hoje é reconhecido internacionalmente por reger obras de de Bach e de compositores brasileiros magníficos como Heitor Villa Lobos, aliás, de quem prepara para daqui há poucos dias uma apresentação na cidade de Nova York, com o teatro de duas mil e quinhetas poltronas, todas vendidas.
O maestro não empunha a batuta e decora todas as peças para regê-las!
É dele uma MARAVILHOSA e inédita versão harmônica do nosso não menos maravilhoso Hino Nacional Brasileiro, aonde o artista intercala várias possibilidades de ritmos na melodia original do Hino, como a valsa, e os nossos ritmos brasileiros do frevo, choro, e samba canção, e que tão maravilhosamente nos foi mostrado, pelas próprias mãos sequeladas do maestro, que brilhante e milagrosamente deslizaram pelo piano nessa oportunidade do encontro.
Também nos apresentou a bela canção LUÍZA do maestro Antônio Carlos Jobim, um espetáculo que nos tirou água dos olhos, e ternura do coração.
Atualmente também dedica-se a um reverencial trabalho voluntário junto à FUNDAÇÃO CASA, antiga FEBEM, aonde através da força da MÚSICA, e do brilhantismo do seu trabalho, recupera os menores infratores e os reintegra à sociedade.
Vê-los tocar (através dum vídeo) foi uma das maiores emoções que já senti na vida.
Enfim um caminho desse grande homem, percorrido HEROICAMENTE nas entrelinhas da sua adversidade, a meu ver, a nos ilustrar o quanto de nós e da nossa história, ainda que adversa ,pode realizar também em prol do AMOR ao próximo.
De suas palavras eu guardarei a seguinte mensagem por ele proferida: Tudo tem que dar certo quando seguimos pela vida com "olhar de poeta e com disciplina de atleta".
Ao maestro João Carlos Martins aqui eu gostaria de lhe deixar minha reverência muito sincera pela sua arte e história de SUPERAÇÃO e o meu muito obrigada pelos minutos de carinho ao coração e de lição à vida!
AINDA QUE NÃO ENTENDAMOS CLARAMENTE OS CAMINHOS, DEUS SEMPRE NOS COLOCA NA HORA E NOS LUGARES CERTOS.
(MAVI)