A Chácara do Visconde

Aqui na minha cidade tem vários bairros chamados Chácara. Chácara Não Sei o Que, Chácara Fulano de Tal, alguns até bem próximos do centro. Eram realmente chácaras que foram loteadas. Uma ou outra virou Jardim, como o Jardim Ana Emília, a chácara da minha avó, onde eu ia passear quando criança e me parecia tão longe... A mais famosa, porém, é a Chácara do Visconde. E quando penso nela, ou passo por ali, me vem logo à lembrança o Visconde de Sabugosa, vestido de fraque e cartola.

É um bairro de classe média, populoso, cheio de ruas curvilíneas, que tem um quarteirão preservado, bem arborizado e cercado, dando a impressão de uma praça. Mas não é. É o Sítio do Pica-pau Amarelo.

Na verdade, o antigo proprietário do local era o Visconde de Tremembé, avô de Monteiro Lobato e o que se preserva ali é a casa da família, onde o escritor passou grande parte de sua infância. Hoje, um museu aberto à visitação. (Entre parênteses, devo reclamar que atualmente anda muito mal cuidado, quase abandonado). De qualquer modo, não deixa de mexer com a cabeça da gente. Não há quem não enxergue dona Benta sentada na cadeira de balanço, com um livro nas mãos, rodeada dos netos Pedrinho e Narizinho, mais a boneca Emília, o Marquês de Rabicó e o Visconde, que tudo escuta pendurado na estante da biblioteca. Do lado de fora, a cabeça enfiada na janela, certo hipopótamo acompanha a narrativa. Sente-se também um cheiro gostoso vindo da cozinha, onde, diante do grande fogão de lenha, Tia Anastácia prepara bolinhos...

Andando pelo jardim, encontramos esculturas dos personagens. E até levamos sustos, quando de repente, a vozinha da boneca nos chama para brincar e ela aparece diante da gente em carne e osso, de cara pintada e cabelos eriçados. Pedrinho corre atrás de crianças, Narizinho dá risada, quase voando num balanço. Pendurado num galho, o Visconde faz um discurso. São moças e rapazes, atores ou estudantes da Escola de Arte Dramática, fazendo a animação.

Crianças gostam do Sítio por causa da largueza e das brincadeiras, mas são os adultos que ali mais se emocionam.