SEM MÁSCARAS PROTETORAS
Quando planejamos nossa segunda viagem a Buenos Aires, ao final do inverno na Argentina, estávamos bastante cientes de que naquele país a incidência do vírus H1n1 havia recrudescido e muita gente estava infetava com a nova gripe. Esperávamos, por isso, encontrar uma população apavorada andando de máscaras para todos os lados. Então, como é óbvio, também procuramos nos acautelar comprando um pacote de máscaras e enchendo um frasco com álcool 96 graus em gel, nossas potentes armas contra a pandemia grassante no mundo. Confesso que realmente tive um certo temor em saber que estaria exposto à possibilidade de pegar a famosa gripe inicialmente chamada de suína, mas bola prá frente porque a nossa viagem já estava definidae não haveria mais qualquer possibilidadede cancelar.
Começamos a usar a máscara logo a partir do aeroporto de Natal, e parecia muito engraçado porque as pessoas nos olhavam como se fôssemos dois ets que tinham acabado de chegar em alguma nave espacial acidentalmente aterrissada naquele aeroporto. Porém, além de mim e Ana havia mais alguém que se mascarava para a viagem inicial até São Paulo, uma mulher grávida para quem a preocupação era justificada devido ao seu estado de fragilidade ante a força do vírus. Nós três, então, embarcamos com o rosto coberto e ao chegarmos a São Paulo não mais a vimos, é provável que tenha ficado por lá mesmo ou tomado outro rumo. As pessoas nos olhavam em meio a multidão se deslocando no enorme aeroporto de Guarulhos e se mostravam surpresas com nossa atitude certamente esquisita para todos. Mesmo já no interior do avião com destino a Buenos Aires somente eu e Ana usávamos as tais máscaras protetoras, sendo perceptível que os demais passageiros davam a impressão de não se importar nada com essa história de gripe suína.
Foi em virtude disso que resolvemos, afinal, retirar as máscaras
protetoras e deixar correr solto o problema já que ninguém mesmo estava usando. Além do mais, nos sentíamos meio constrangidos de sermos os únicos mascarados no airbus 737 seguindo para Buenos Aires. O mais interessante de tudo isso é que ao chegarmos ao nosso destino não vimos os portenhos se protegendo com máscaras apesar da multidão circulando no imenso baile de idas e vindas dos circunstantes. Espirros explodiam, tosse, risos, gargalhadas, abraços e beijocas mas mesmo assim não se percebia qualquer resquício de preocupação com o vírus H1n1. Não se falava a esse respeito em nenhum momento, inclusive fomos recebidos por nossa guia juntamente com os outros desembarcados e ela não se referiu ao problema pandêmico de jeito nenhum. Já na capital e instalados no hotel cheio de hóspedes de várias partes do mundo, saímos pelas ruas, andamos de subté(o metrô deles) praticamente lotado em várias ocasiões e horários, todos se aglomerando como se numa lata de sardinha, de vez em quando pipocavam espirros e tosses, frequentamos restaurantes entupidos de comensais, fomos a shows diversos, vimos crianças mendigando nos transportes públicos mas nada de máscaras protetoras. A população e os turistas não davam a mínima para essa estória de gripe suína, até mesmo como se ela fosse somente um mito ou uma invenção qualquer para atemorizar as pessoas. Por sete dias visitamos vários lugares e bairros, fomos também aos shoppings Bullrich, Abastos, Alto Palermo e outros e absolutamente ninguém, ninguém mesmo colocava a máscara protetora no rosto.
Ao regressarmos para o Brasil sentindo durante a viagem a garganta seca, o nariz pingando e os espirros que prosseguiram durante uma semana em meio à tosse esquisita, mas sem dor de cabeça, febre ou dores no corpo, em momento algum tive receio de estar contagiado com o vírus H1n1, graças a Deus. Hoje, passados onze dias de nossa viagem a Buenos Aires, já não espirrando nem tossindo, graças a Deus, estou escrevendo esta crônica ciente de que as coisas só acontecem quando tem de acontecer e no momento certo com a pessoa certa.