Casos Verídicos II
Em certa ocasião, quando a noite vinha chegando, e quando o movimento do bar diminuía muito, chegou um senhor que era hóspede no Hotel Suares e que estava em Campinas se tratando da vista, e foi contando ao meu patrão, o Sr. Coelho, que ele era filho de italianos e que tinha morado no Triângulo Mineiro “fazendo terra”, cuidando de café, plantando arroz. Tudo isso como empregado, só dava para ir vivendo, mas um dia um mineiro lhe disse:..”Você que sabe escrever e ler muito bem, por que não vai para a cidade de São Paulo, cidade grande? Com um pouco de jeito lá você vende de tudo. O meu compadre está lá há 10 anos e começou vendendo amendoim com uma cesta e hoje ele já tem uma casinha, e os filhos todos empregados e estudando. Vá para lá e você vende doce de leite, paçoquinha, pastel, garapa, e vive muito melhor que aqui..”.
Então, o senhor do caso, que ainda não tinha filhos, foi para São Paulo, junto com sua esposa. Isso em 1937. O começo foi difícil, mas emprego era fácil, arrumou emprego num hotel.
A esposa cozinhava e ele fazia de tudo na casa e ainda rachava lenha para o hotel, e para outros, visto todos os fogões serem a lenha, na época. E foi guardando algum dinheiro. E para resumir, ele disse:
- Hoje eu tenho uma boa casa em Perdizes, os três filhos estudando que não irão puxar a enxada que eu puxei. Isto tudo em 10 anos.
O meu patrão lhe perguntou qual era o segredo do seu sucesso, então ele respondeu:
- Comprei um carrinho de cachorro quente e visei atender bem, antes de olhar para lucros. E a aparência é muito importante. Lembrei-me o que o “Arroz de Festa”, apelido do Gumercindo, um guarda livros, lá do Triângulo me falava: Eu nunca tenho um tostão no bolso, e sou convidado para todas as festas daqui. Sabe por que? Porque eu ando sempre bem limpo e bem vestido. Nunca esqueça a gravata e nas conversas sempre dê razão a quem estiver falando.
Assim eu fiz. Paletó branco, gravata e muita limpeza, e boa mercadoria. A salsicha vem de Santo Amaro o pão da Freguesia do Ó.
Eu peço para fazer o pãozinho um pouco maior que o dos outros que vendem a mesma coisa que eu. E nunca trago as preocupações de casa para o trabalho.
Ninguém compra nada de alguém com cara fechada. E o resto, com um pouco de imaginação completa o sucesso.