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SURPREENDER: uma raridade
Lá, naquele povoado distante, sem parabólicas, computador, shopping, e outros “habitantes” dessa louca era, por incrível que pareça, havia uma escola.
Ficava perto de um dos umbuzeiros, riqueza do local. Com o umbu, alimentava-se a família, fazia-se doce de cortar, geléia, suco da polpa, umbuzada, balinha enroladas na mão e o que mais a criatividade ordenasse. Era com o umbu e pelo umbu que aquele povoado convivia e sobrevivia.
Voltando à escola... Eram crianças de famílias pobres, mas conscientes de que o estudo é o único bem verdadeiro, isso ouviam dos seus pais. Mas nem todos os pais são colaboradores nem todos os alunos são interessados...
Um dia, a “tia” (isso chegou até ao povoado). Chamar de “tia” a professora é ridículo, mas o termo Professora foi abolido, fazer o quê? Como estava dizendo, um dia a “tia” chamou seus alunos e disse:
- Peguem cada um uma cesta daquelas, e vão até ao umbuzeiro colher frutos. Vai haver uma festa no povoado e precisamos de muitos deles.
As crianças saíram, uns em debandada, outros vagarosamente (não estavam a fim de fazer serviço de adultos).
Hora depois a “tia” foi ao local, para ver como andava a colheita e ficou observando o local: havia inúmeras folhas secas embaixo da árvore, caídas dali mesmo ou enviadas pelo vento e ela pensou:- essas folhas precisam ser retiradas daqui... Estão escondendo os umbus sob elas... E voltou para a escola, avisando que, quando a igreja tocasse o sino de meio-dia, todos voltassem.
Não foi preciso esperar o sino, minutos depois todos estavam na escola. Uns com a cesta quase cheia, outros com ela pelo meio, outros apenas com uns pingados umbus na cesta. Mas a “tia” deparou-se com algo que lhe chamou atenção: a cesta de Paulo estava abarrotada de umbus...
- Paulo, parabéns, você fez uma ótima colheita!
- Também fiz outra coisa, “tia”
- O que, menino?
- Catei aquelas folhas e “joguei elas” um pouquinho longe dali.
A “tia”, surpresa, expressou-se:
- Menino, você me surpreendeu!
- “Tia”, se isso aí que a senhora falou é fazer mais do que a senhora pediu, então eu fiz, sim.
- É Paulo, surpreender é isso: fazer algo mais. Você merece mais que parabéns, merece ser o exemplo para seus colegas e para muitos adultos que, quando muito, só faz o que lhe pedem ...
É, as crianças sabem surpreender sem saber que o estão fazendo, apenas porque este atributo é inato. Os adultos, porém, sabem o significado da ação, mas esqueceram que foram crianças.
Surpreenda seu parceiro, seu pai, sua mãe, seu gestor, o colega de trabalho, seus filhos, seus amigos, um desconhecido, mas, principalmente surpreenda-se!