Amigo Crislan "Pelanca"

Éramos pequenos quando brincávamos com bolinhas de gude. Elas abrilhantavam nossos olhos de criança e ao mesmo tempo trazia para nosso grupinho de amigos a briga pela fome de ter mais e mais bolinhas. Assim era a nossa vida próxima a feira onde minha avó morava, e que batizamos de “parque de diversão”.

Crislan o “Pelanca” era meu amigo, perdeu seu pai quando era uma criancinha e não se recordava muito dele, sempre juntos saíamos para correr no meio da feira. Era uma criança de família pobre assim como eu, mas tínhamos de tudo devido à dedicação dos nossos pais. Passávamos o dia inteiro brincando com Estevão, outro amiguinho de infância. Decidimos juntos que um dia iríamos ser grandes homens. E assim os dias se passaram.

Eu tomei meu rumo, escola, diversão e aos 15 anos comecei a trabalhar. Pelanca, ainda na mesma, escola, feira, pedindo, correndo e seguindo Estevão. Estevão, esperto e arisco, correndo e sempre correndo... Mas, da polícia.

A feira já não era o nosso “parque de diversão”. Pelanca cresce e se acha o dono do pedaço, não sabendo ele que nesse pedaço estaria o perigo da vida. Estevão incentiva. Pelanca se engrandece. Pena de meu amiguinho pelanca.

Torna-se bandido. Dentre vários acontecimentos e queixas sobre ele na polícia, o moleque corria na feira por diversão, agora corre por medo de ser pego e morto pelos PM’s. Perde sua mãe em janeiro de 2009, a única pessoa que controlava Pelanca, mulher guerreira e dedicada aos filhos e filhas. Pelanca Jura a si mesmo que vai acabar com todos que cruze seu caminho, principalmente os policiais.

Recebe força dos amigos de fuga. Mas nunca quis ouvir quando eu dizia:

_ Pelanca, saia dessa vida meu irmão lembre-se da nossa infância, juramos a nós mesmos que iríamos ser grandes homens. Homens de mentes livres como éramos antes, crianças que sonhavam em ter um futuro melhor diante da situação que vivíamos. Hoje você não quer mais me ouvir e sabe que um dia vai ser perder e nenhum desses amigos que tem agora irão te ajudar.

Ele me respondia, mas com muito rancor:

_ Qual é meu amigo! Hoje o que faz um homem é uma arma na mão. Minha mãe me protegia e hoje não protege mais. Se você ainda me considera amigo, siga sua vida e não entre nessa não, pois sei o que se passa um bandido sem pai e mãe e além do mais... Sem proteção.

Essas foram as suas últimas palavras, daí em diante nunca mais conversei com ele. Em poucos dias Pelanca e os “amigos” aramaram um assalto. Casa de família levou tudo, comemoravam o bem feito, mas não esperavam que em 15 minutos após a brincadeira fossem se dar mal.

Pelanca era o cabeça da turma e estava com uma pistola na mão, após o roubo ele era o mais procurado pela CAESG – (COMPANHIA DE AÇÕES ESPECIAIS DO SUDOESTE E GERAIS), a tempos que procuravam por ele. E dessa vez vieram para acabar com a vida de Pelanca.

O Zunido das sirenes espanta Pelanca e a turma depois de passado os 15 minutos. Pelanca se esconde num telhado, e mesmo assim é achado pelos policiais. Escutava-se em toda a vizinhança conversa de um do grupo:

_Então você é o Pelanca! Moleque novo que está nos causando problemas! Você agora irá saber o quanto estamos preocupados.

Pelanca no medo pede para não morrer:

_ Por favor, senhor, não me mate!

Mas esse será o seu fim. Imagino que nesse momento de angústia ele se lembra da nossa infância, quando brincávamos e corríamos pela feira em busca de aventuras, em um meio de diversão no qual sempre estávamos juntos e sorrindo sempre. Deve lembrar também de sua mãe e de sua proteção, pois era ela quem cuidava e não o deixava cair na perdição. Se em algum momento do medo ele parou pra pensar, na certa ela lembrou do que me disse: _ Qual é meu amigo! Hoje o que faz um homem é uma arma na mão.

Mas a arma que estava na mão dele nunca iria tirá-lo daquele pesadelo. Pelanca viu a morte passar em seus olhos e nesse momento a vizinhança se assusta ao ouvir o barulho de um tiro juntamente com o grito do jovem Pelanca:

_ Mãe, eu não quero morrer! Perdoe-me minha mãe, por não fazer o que sempre me pediu.

Essa foi sua última frase. Partiu desse mundo um jovem que teve os caminhos a escolher e como muitos dos outros jovens ele escolheu o caminho mais curto, o caminho fácil da vida, sem saber que para vencer temos que pegar um caminho mais longo e complexo.

Não foi por falta das palavras amigas que ele acabou assim, mas por falta de amor a si próprio, de uma mãe que morreu cedo de mais e de decisões tomadas por impulso durante a sua convivência com pessoas voltadas para o crime.

Ele teria uma saída, todos nós temos uma saída, o que nos falta é saber por onde deveremos andar.

Crislan “Pelanca” amiguinho de infância, a feira era o nosso “parque de diversão” hoje ela se tornou um alvo para os bandidos que você chefiava. Roubos, tiros, fugas, correria, medo, tristeza, solidão, angústia, drogas... Já não sei mais olhar para o nosso “PARQUE DE DIVERSÃO” sem antes pensar em você e lembrar que não existe mais alegria onde sempre estávamos juntos.

Édipo Henrique Teles Leite, 25 de setembro de 2009.

Édipo Henrique
Enviado por Édipo Henrique em 25/09/2009
Reeditado em 25/09/2009
Código do texto: T1831492
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