Prato Cheio
Minha mãe acredita que prato cheio é sinônimo de satisfação e abundância. Ela não acredita no mastigar, prega o engolir. Ora, minha mãe não sabe, mas todos sabem que comida engolida é sinônimo de privada entupida pelo alimento que o corpo não conseguiu absorver. Não adianta explicar para a minha mãe que o prato vazio é na verdade um prato meio cheio; pois se não encho o prato, há algo errado com a comida; se não como tudo; é “desfeita” com tanta gente que passa fome no mundo.
Foi assim que minha mãe me educou com toda a sapiência herdada de uma cultura onde mais é tudo; o problema é que a vida já me ensinou que menos é mais. Pensando nisso, olho para os livros da estante que não li; condenados a eterna pena do “talvez um dia serei lido”; comprados em nome de uma causa de fome de sei lá o quê quis aprender e que até hoje não aprendi. Não sei se essa gula por conhecimento causa enburrecimento, mas sei que ando meio obeso de tanta leitura desnecessária.
Baseado nisso, fiz uma lista de livros que adoraria ler ou reler e doei os livros que estavam mortos na estante para o sebo; lugar onde livros idosos viram criança de novo nas mãos de quem deseja realmente ler, e não quem tem quê. Quando o assunto é leitura; ninguém tem que ler nada; pois assim como o prato cheio de comida; mas vale a palavra degustada e devidamente digerida do que a palavra engolida para mostrar a mãe do mundo que a nossa barriga está cheia de conhecimento, mas a cabeça vazia de sabedoria.
Frank Oliveira
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