Entre nervos, risos e lágrimas...

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Minha mãe é uma pessoa muito chorona... Aliás, as pessoas da minha família (leia-se parentes próximos) são quase todas sensíveis ao extremo, choronas mesmo. E eu, claro, não poderia fugir à regra. E já passei ou paguei vários micos por causa disso. Uma vez, por exemplo, não estava muito satisfeita com uns acontecimentos no trabalho, tomei coragem e fui falar com meu chefe. Claro que o choro estava ali, na ponta da garganta, para explodir, mas eu estava tentando me controlar... Até que, de repente, meu chefe, percebendo meu estado quase deplorável, disse a palavra mágica (que destrava a trava do choro ou de qualquer sentimento que esteja à porta do meu ser). Ele disse “calma”... E disse isso, cavalheirescamente, oferecendo-me uma caixa de lenços descartáveis! Imagine! Foi o mesmo que dizer: “desabe”! Só faltou me oferecer os ombros... (E então seria o caos, porque naquela situação, eu teria mesmo chorado em seus ombros... oh céus!)... E ali mesmo, eu desabei (molhando a mesa dele, a minha roupa e gastando todos os lenços da caixa!)... Lágrimas e mais lágrimas na frente de um chefe perplexo que tentava ser condescendente...

O pior é que cenas como essas tendem a ser piores quando a gente tenta se controlar e só o que conseguimos são algumas palavras entrecortadas, soluços cada vez mais altos e um nariz ridículo, inconveniente, que resolve também se derreter... (Aiii, porcaria de rinite!). Toda vez que me lembro disso, tenho vontade de morrer.

Bom, mas como eu ia dizendo, minha mãe é muito chorona, e eu já a vi chorar várias vezes, desde que me conheço por protótipo de gente. Mas eu não me lembro de tê-la visto chorar de alegria, nenhuma vez... E confesso que eu, ao longo dos meus três séculos de existência, chorei pouquíssimas vezes por alegria... Foram tão raras as vezes, que me lembro perfeitamente dos motivos... Qualquer dia enumero um por um...

Mas hoje eu quero registrar um desses choros que tive, tão descontrolado quanto o que tive em frente ao meu chefe... E esse... esse tinha um sabor diferente... Era daqueles choros que precisam existir porque simplesmente as palavras são inúteis e jamais irão expressar a alegria, a gratidão, a surpresa, o enternecimento, o agradecimento, sei lá... E enquanto as lágrimas desciam, e meus olhos e ouvidos registravam o que eu via e ouvia, meu pensamento repetia, quase sem acreditar: “puxa, vida, e não é que Deus se lembrou de mim?”.

(...) Ao mesmo tempo, lembrava-me da Virgem Maria, tendo seu Menino Jesus, e me lembrava das outras vezes que eu havia passado por aquilo. Mas das outras vezes, apesar da semelhante alegria, eu estava entregue à anestesia... E então, tenho um ou outro lampejo da felicidade do momento... E das carinhas lindas que se apresentavam a mim... E desta vez não. Desta vez fiquei lúcida. Acordada. E completamente envolvida ao que me acontecia...

E foi assim que Isadora veio. Sei que não há palavras, papéis, caracteres ou seja lá o quê... para expressar o que eu gostaria sobre o momento que vivi naquele 30 de julho.

Mas eu preciso desse registro, até pra poder acreditar que – sim – o Criador ainda acredita em mim... E isso... Bem, isso é... (totalmente sem palavras)...

Bom... Talvez minha mãe tenha chorado de alegria algumas vezes em sua vida, talvez até quando meu irmão ou eu nascemos... Eu nunca perguntei. O fato é que eu nunca vi...

Por isso, quero registrar nesta tarde de primavera, enquanto olho para minha pequena Isadora e seu semblante sereno, que quando ela nasceu, eu chorei... e muito... E isso foi lindo... Maravilhoso... E pleno!

Obrigada, meu bem...

É isso!

(Adriana Luz – 25 de setembro de 2009)

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Adriana Luz
Enviado por Adriana Luz em 25/09/2009
Reeditado em 14/10/2010
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