Está perdoado!!!

Estava mais do que atrasado, precisava chegar à reunião de pais e mestres as oito e trinta, o filho ainda com sono era literalmente rebocado pela mão, na rua calculava os minutos que faltavam e o caminho a ser percorrido, com aquela “rapidez” não conseguiria nunca cumprir com o horário, além de prejudicá-lo no trabalho, que gentilmente havia cedido a manhã para comparecer a reunião da escola. No trajeto lembrou uma viela, que ele utilizava quando criança, justamente para ir à escola, procurou-a e ao encontrar puxou o muleque, que continuava com sono, com tudo para esse corta caminho.

Foi então que o filho de uma boa mãe decidiu que queria comer um salgadinho, no início até fingiu não ouvir, mas com tamanha insistência, entrou no primeiro boteco que achou.

- Bom dia, um salgadinho, por favor!

- Do quê?

- Qualquer um está bom.

O filho apontando para o salgadinho que realmente ele queria, acabou chamando a atenção de um senhor que não parecia no seu estado normal em plena manhã.

- O seu filho quer esse daqui, não está vendo?

- Agora ele não quer nada, estamos atrasados, qualquer um está bom.

- Mas que pai desnaturado, como pode tratar assim uma pobre criança?

- Meu senhor, peço, por favor, que não atrapalhe, o filho é meu, eu sou o responsável.

E enquanto o bêbado insistia em apoiar a vontade da criança, mais o pai ficava nervoso, um simples pedido agora se tornava um baita “redemoinho”, o que só atrasava ainda mais a chegada deles a reunião, foi então que o “prezado senhor” com o seu inseparável copo na mão tropeçou e “por sorte” derramou todo o líquido incolor na camisa do pai, naquele momento o sangue que já lhe fervia nas veias, começava a entrar em ebulição. O “disgramento” notando a situação que acabava de causar, segurou o pai da criança pelo braço e começou a pedir inúmeras desculpas.

- Eu jamais quis fazer isso com o senhor, peço desculpas.

- Tudo bem, eu aceito. Agora pode soltar o meu braço?

- Então você me perdoa de verdade?

- Sim meu senhor, "está perdoado", agora solta o meu braço.

Cheirando a “Velho Barreiro” o pai segurando a criança pelo braço chegava finalmente a escola, já se passavam vinte e cinco minutos do início da reunião, sem graça, pediu desculpas pelo atraso e esboçou argumentar o real motivo do seu retardo. A professora sentindo um forte cheiro exalado de sua camisa considerou as desculpas.

- Não é um exemplo a ser seguido pelo filho, mas o senhor "está perdoado"!!!

Ouviu todo o sermão, quis dar uns tapas no muleque ali mesmo, e depois de quarenta minutos, além do que ele imaginava, saiu em disparada rumo ao trabalho, ônibus que não aparece, trânsito parado, o cheiro da camisa, a dor de cabeça de tanto escutar a professora falando da bagunça do seu filho, tudo isso mais o que ele já aguardava do patrão, os minutos voavam, com meia hora de atraso, finalmente conseguia chegar ao destino, como esperado o patrão veio lhe recepcionar.

- Algum problema?

- Problema? Não senhor, tudo em ordem.

- Que cheiro forte é esse?

- Pô patrão se eu lhe disser você não vai acreditar...

- Pois então nem precisa me contar, por hoje passa viu, na próxima...

- Mas...

- Já disse, hoje você "ESTÁ PERDOADO"!!!

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 25/09/2009
Código do texto: T1830098
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