TROPAS INIMIGAS

Alguém (que não lembro quem foi) disse certa vez (que não lembro quando foi) que você não escolhe ir à guerra e, sim, a guerra escolhe vir até você. Concordo, ainda mais depois da tarde de hoje. Eu estava tranquilão trabalhando no meu computador, coisa que faço todos os dias, mesmo depois de trabalhar a noite toda (trabalho em vários turnos – diurnos e noturnos), tocando e escrevendo, quando resolvi ir à cozinha pegar algo para comer. Pois foi nesse momento que vi as tropas inimigas marchando rumo ao alvo: um bolo de chocolate que estava sobre a mesa.

Formigas, rapaziada, muitas, mas muitas formigas. Seguiam alinhadas, como tropas treinadas, porta adentro. Num primeiro momento, fiquei sem reação. Pensei em ligar para o 190 a princípio, mas daí pensei: Beto, você é um homem ou um rato? (creio que isso tenha sido dito outrora por alguém também – cujo nome não me recordo. Acho que estou com problema de memória). Levei alguns segundos até me recompor e planejar minha ação.

Primeiro, calculei a distância entre a porta e a mesa para ter uma noção da quantidade de inimigos que enfrentava – é sempre importante conhecer o inimigo e, principalmente, quantos são. Após terminar a contagem, percebi que teria dificuldade em vencê-las. A questão era: que armas usar? Comecei com uma vassoura (sei que parece cruel, mas você pensa assim porque nunca enfrentou inimigos tão decididos) e varri sem dó as formiguinhas para fora de casa. Depois, transferi o bolo de posição e passei um pano sobre a mesa para dar o trato final.

Não sofri nenhuma retaliação e julguei ter vencido a batalha. Como já tinha, além de duelar com as formigas, trabalhado tudo o que devia (uma pegada na madrugada, de violão em punho, e outra à tarde, escrevendo, atualizando site e “marketiando”) decidi dar uma volta com o meu cachorro. Minutos depois, voltei para casa e deparei-me com o horror... elas voltaram. A mesma fila, o mesmo bolo, a mesma cara-de-pau de invadir a casa de gente de família para roubar descaradamente a despensa alheia. Pois fale mal do meu cabelo (falta de), da minha pança de cerveja, da minha preguiça crônica, mas não mexa com a minha comida. Agora era guerra!

Vassoura de novo; só que, dessa vez, varri as danadas até a rua, sem dar chance para que encontrassem o caminho de volta. Mordendo os lábios de raiva, peguei álcool e borrifei no chão todo – para inibir o olfato das lazarentas. Joguei o bolo no lixo e lavei toda a louça (atitude louvável e rara, é bom que se diga). Contudo, eu sabia que não bastava. Precisava atacá-las em seu quartel general... e foi o que fiz. Segui o rastro até descobrir de onde elas partiam: um buraquinho que ficava sob uma lajota trincada, lá na garagem.

Lembrando os meus tempos de piá (ou guri, garoto, menino, moleque, para os não curitibanos), decidi usar armas químicas (que a ONU me perdoe...) e taquei detergente na porta do QG inimigo (fui bacana, diz aí, pelo menos não usei uma lupa para tostá-las). As formigas não apareceram mais, o que me faz pensar que venci a guerra. Só tenho medo de ser arrastado da minha cama, por vingança, durante a noite. Mas vou preparar armadilhas e alarmes ao redor para evitar possíveis problemas... Ah, e amanhã vou comprar um novo tubo de detergente.