CHEIA DE CARNE

No principio era o verbo;

E o verbo se fez energia;

E a energia se fez matéria;

E a matéria se fez carne;

Muita carne; carne demais de existir; carne demais para revestir os ossos; carne demais para cobrir a alma.

Vocês comem, tu comes, nós comemos; eu como por todas as pessoas; por todos os verbos; por todos os gêneros e por todo o universo que gira ao meu redor; e vou ficando cada vez maior; cada vez mais não caibo em mim.

Quero parar, não dá! Como tudo o que vejo, sou Magali! Não era assim, não era assim; e agora, a cada quilo que incorporo, a cada grama a mais, aterrorizo-me com o que vejo; mas não consigo parar. Estou grávida do desejo de me revestir de tudo o que vejo; não há mais dieta que eu não conheça; já não mais adianta fechar a boca; já não caminho, rastejo; já não vivo; vegeto!

Preciso de ajuda, antes que alguém com uma agulha faça de mim caso de enfermaria, de UTI. Preciso ter força, firmeza para mudar, antes que eu me esqueça de como eu era e só lembre como sou, do outro lado, onde não há mais carne; onde não cabe matéria; mas daí será muito tarde; pois como energia, eu sou apenas verbo e verbo sozinho não faz frase.

Frank Oliveira

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